domingo, 6 de janeiro de 2019

PODERIA A IGREJA UM DIA ACEITAR O HOMOSSEXUALISMO COMO NORMAL?



          Primeiramente quero dizer que é o amor à Verdade e a preocupação com a perdição eterna que me leva a escrever sobre o tema (e não o desejo de condenar ninguém). Nesses meus 43 anos de vida trabalhei (e até servi na Igreja) com muitos homossexuais e tive amizade com muitos. Peço-lhes a benevolência de tentar entender o texto. Não posso obrigar ninguém a concordar, mas quero deixar clara minha posição. Deus nos ajude!

          Vamos entrar em tema polêmico onde o famoso padre Marcelo Rossi, no seu livro “Phillia”, se atrapalhou (talvez pensando que ninguém iria conferir). Ele preferiu ‘recortar’ uma parte da Bíblia a citar os homossexuais na passagem em questão. Na página 86, ele diz assim:

          “Acaso não sabeis que os injustos não hão de possuir o Reino de Deus?” (1Cor 6,9). Em seguida, enumera quem são os injustos: “nem os ladrões, nem os avarentos, nem os bêbados, nem os difamadores, nem os assaltantes hão de possuir o Reino de Deus” (1Cor 6,10)”.

          Em negrito o texto do livro. Quando li pela primeira vez, parecia que estava faltando algo nesse texto. A sequencia que o padre apresenta parece ser uma continuação, citando um versículo e em seguida o outro, mas quando se vai na Bíblia, vemos o recorte que foi feito. A passagem em questão, Primeira Carta aos Coríntios 6,9-10, diz assim:

          “Acaso não sabeis que os injustos não hão de possuir o Reino de Deus? Não vos enganeis: nem os impuros, nem os idólatras, nem os adúlteros, nem os efeminados, nem os devassos, nem os ladrões, nem os avarentos, nem os bêbados, nem os difamadores, nem os assaltantes hão de possuir o Reino de Deus”.

          Padre Marcelo Rossi dá uma recortada escandalosa na Palavra de Deus para não desagradar alguns. Se quisesse, ao menos, ser mais justo, quando cita o primeiro versículo, ao invés de dar a referência como deu (1Cor 6,9), deveria ter colocado como deveria (1Cor 6,9a) Esse “a” depois do versículo faria toda a diferença, mas ele preferiu omitir vergonhosamente.

          Minha intenção nesse texto não é “falar mal” do padre Marcelo Rossi, mas apenas mostrar que para falar desse tema (homossexualismo) é preciso ter coragem de ser criticado, mal compreendido, saber que não vai agradar a muitos. Tem que ser como o santo padre Pio de Pietrelcina dizia: “Aos homens fazer o bem; agradar somente a Deus”.

          Numa postagem de facebook, vi alguém (católico) dizendo que “homossexualismo é normal”. Depende do que se entende pela palavra “normal”. Eu poderia dizer que ser assaltado no Rio de Janeiro é (infelizmente) normal. Esse “normal” não significa bom, nem agradável, nem saudável, nem aceitável, nem de acordo com a vontade de Deus. “Normais” nesse caso seriam comportamentos que acontecem bastante, que não são raros. Nesse sentido o homossexualismo tornou-se sim bem normal nos dias de hoje.

          A pergunta então é a seguinte: poderia o catolicismo mudar seu posicionamento em relação à prática homossexual como aceitável ou até mesmo desejável? Em tempos onde o Papa atual parece ter uma abertura maior nesse sentido (verdade ou não, essa ficou a impressão nas pessoas em geral, ou o que a mídia quer que pensem), seria possível essa mudança? Francisco já até mesmo canonizou um homem com suspeitas razoáveis de ter sido homossexual (e o tornou beato num sínodo das famílias que tratava sobre homossexualismo...coincidência?). Essa canonização poderia, ao invés de ser escandalosa, tratada como se o “santo” fosse um precursor, um visionário! O primeiro homossexual santo! Queira Deus que as denúncias sejam todas falsas...mas foram ignoradas completamente no processo desse “santo” (em outro texto voltarei a tratar desse assunto).

          É preciso primeiro entender que a Igreja não tem preconceito com os homossexuais, ela tem é um conceito sobre o homossexualismo. A Igreja tem a missão de levar a Salvação em Jesus Cristo a todos os homens, entre outros motivos, para que eles não sejam levados ao inferno por toda a eternidade. Não é que a Igreja queira se meter na vida dos homossexuais, mas se ela crê que o modo de vida que a pessoa está levando a afasta de Deus e a levará para um castigo eterno, não seria mais do que natural que ela, por caridade, alertasse sobre isso? Isso não vale somente para os homossexuais, mas para todos os que ela (a Igreja) acredita estarem fora do caminho que Jesus nos deixou. De uma certa maneira, todos fazem isso com aqueles que amam. Se um amigo ou parente seu está, por exemplo, no mundo das drogas, tentar aconselhá-lo a sair dessa não é se meter na vida dele, mas tentar ajudá-lo a sair de um caminho que só o levará à própria destruição. Vejam, por exemplo, o que santa Faustina, em seu famoso diário, diz: “Hoje soube que uma pessoa da minha família está ofendendo a Deus e que se encontra em grande perigo de morte. Esse conhecimento transpassou a minha alma com tão grande sofrimento que eu pensei que não sobreviveria a essa ofensa a Deus. Pedi muito perdão a Deus, mas eu via a Sua grande ira” (Diário de santa Faustina 987). Santa Teresa d’Ávila tem também a mesma preocupação com aqueles que se encontram fora dos caminhos de Deus e com o risco de se perder para sempre. No seu “Caminho de perfeição” (capítulo 7), falando de interceder por alguém, ela ensina: “É coisa estranha o amor veemente de uma alma santa! Quantas lágrimas custa! Quantas penitências! Que cuidado de encomendar o amigo às orações de quantos parecem ter valimento junto de Deus! Que desejo contínuo de vê-lo progredir, e que mágoa inconsolável quando assim não acontece! Se, julgando-o melhorado, o vê regredir um pouco, parece que nada mais tem graça na vida: não come, nem dorme, é só aquele cuidado. Sempre o temor de que se perca alma tão querida, e se apartem eternamente”. Não é desejo de condenar, muito pelo contrário, é zelo para salvar!

          A Igreja crê verdadeiramente que a humanidade esqueceu-se de Deus e está a caminho da própria ruína e por isso não se cansa de anunciar o caminho de Jesus, o caminho da Cruz, da porta estreita, para que os homens se arrependam de seus pecados, se convertam e voltem-se ao caminho da Salvação. Esse desejo da Igreja pela conversão dos pecadores é Amor!

          Um segundo problema que precisamos entender é que, na Igreja da América Latina (principalmente), desde os anos 70 do século XX, um movimento teológico chamado “Teologia da Libertação” fez um grande estrago (e ainda hoje tem suas influências por aqui no Brasil). Teólogos como o peruano Gustavo Gutiérrez e o brasileiro Leonardo Boff colocaram o marxismo na teologia. E porque fizeram isso? Porque entre eles defendeu-se a ideia (entre outras, claro) de que o inferno não existiria ou estaria vazio, pois a misericórdia de Deus salvaria a todos, indiscriminadamente. Aí é uma conclusão lógica: se todos já estão salvos, pra que se preocupar com o Céu? A preocupação, então, passa a ser com o aqui na Terra, o que passa a valer é: “o importante é ser feliz”. E ser feliz é ter uma vida social próspera, financeiramente feliz, sexualmente feliz, se já estamos todos salvos, posso fazer o que eu quiser, da minha maneira, sem me sujeitar a ninguém. O problema do “pecado”, então, não é mais que ele pode lhe levar a afastar-se de Deus eternamente, mas somente que ele pode te deixar infeliz na vida. E todos devem ser felizes, não é mesmo? Até o padre Marcelo Rossi (já estou eu falando dele novamente) escreveu isso no “Phillia” também: “O Senhor quer nos ver felizes. Essa é a sua vontade”. Não que isso não seja verdade, mas necessita uma explicação melhor. Santa Bernadette Soubirous, a francesa que no século XIX teve a visão de Nossa Senhora de Lourdes, teve que ouvir numa das aparições: “não posso lhe prometer felicidade nessa vida”. Que decepção se um teólogo da libertação ouvisse isso! Para essa corrente teológica, é natural que mais cedo ou mais tarde se aceitasse o homossexualismo, afinal de contas, como já foi dito, o que importa é ser feliz (em outro texto tratarei também da existência do inferno). Logicamente que todo demérito não pertence só à Teologia da Libertação; é muito mais profundo, vindo lá do Renascimento, quando foi-se mudando do Teocentrismo (Deus no centro) para o Antropocentrismo (o Homem no centro), mas não dá pra tratar disso agora. Fica mais uma promessa para um outro texto.

          Um terceiro problema é que o ensinamento moral da Igreja Católica não é seguido por seus membros, então como poderiam cobrar de outros? Qual é o pregador católico que ensina a moral católica como deveria? Como disse o padre Paulo Ricardo certa vez, a proliferação do homossexualismo na Igreja é culpa do...heterossexual da Igreja! Quando o católico acredita que pode usar camisinha, ou anticoncepcional, ou que pode transar com a sua namorada (o) sem estar casado, ou que pode morar junto sem casar (no religioso, entenda-se...pois o casamento civil não passa de um contrato), que pode adulterar, que não há nada demais na pornografia, masturbação, em sexo anal ou oral, etc, ele está ensinando com a sua vida que seu desejo sexual (isso como hétero) está acima do ensinamento da Igreja. Como pode querer cobrar do homossexual que não viva também da mesma forma, colocando seu desejo sexual em primeiro lugar também?

          Chegamos ao “X” da questão. Qual o grande problema em ser homossexual para a moral católica? Antes de falar porque não é aceitável moralmente, preciso dizer que não é uma prática saudável o sexo anal. Mesmo que eu não soubesse nada sobre isso, tecnicamente falando, o fato de introduzir um membro no ânus (que não é um lugar limpinho, convenhamos) já não pareceria saudável, porém, escutei uma médica falar sobre os absurdos casos de câncer de próstata e endocardite bacteriana em homossexuais, muito mais do que em héteros e ela explica cientificamente o porquê desta estatística. Bom, é alarmante mas existe uma série de coisas que não são saudáveis e as pessoas fazem assim mesmo, não é verdade? Desde tomar refrigerantes ou comer frituras até embriaguez, etc.

          No caso do católico, são Paulo é quem mais claramente fala sobre Castidade, que é o “X” da questão de fato. “Ou não sabeis que vosso corpo é templo do Espírito Santo, que habita em vós, o qual recebestes de Deus e que, por isso mesmo, já não vos pertenceis? Porque fostes comprados por um grande preço. Glorificai, pois, a Deus no vosso corpo” (1Cor 6,19-20). Entregar a vida ao Senhor, que fez o Céu, a Terra e tudo que existe, que se encarnou para viver entre nós e morreu numa Cruz para nos salvar, leva-me necessariamente a colocar minha vida de acordo com a Sua vontade...e não a minha. Ter o domínio de si mesmo só é possível pela Castidade e o cristão que não a vive (ou não luta por esse ideal) está apenas brincando de ser cristão ou se iludindo. “A virtude da Castidade desabrocha na amizade” (CIC 2347). A Igreja, no desejo de que sejamos filhos de Deus íntegros, no desejo de honrar tão maravilhoso Deus, pelo que ele faz e pelo que ele é, nos convida à perfeição, pois é esse o desejo de Cristo: “Sede perfeitos, assim como vosso Pai celeste é perfeito” (Mt 5,48). E “bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus!” (Mt 5,8). Isso não será possível colocando o prazer sexual como o principal em minha vida. A Castidade não é apenas para os homossexuais, mas é para todos! O casado, o solteiro, o padre, a freira, enfim, a todos é feito o chamado para doarem suas vidas (e seus corpos), de maneira ordenada, ao Senhor (o “mal moral” pode ser definido como ausência de Bem ou ausência de Ordem, mas essa explicação também merece outro texto), sabendo que o que ele tem para nós “nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem o coração humano pode imaginar” (cito de cabeça).

          Poder-se-ia dizer: “Mas isso é impossível ou, no mínimo, muito difícil!”. De fato, é mesmo. Deus não nos cobrará a perfeição desse desejo, mas julgará o quanto você luta para se adaptar à sua divina vontade. Como dizia o Papa João Paulo II: “Santo é o pecador que não desiste!”. Aceitar o pecado porque não consigo vencê-lo e desistir de lutar é fazer uma escolha: a escolha de que Deus (e a Igreja) está errado no que me pede. Talvez se passe a vida inteira lutando contra um pecado...e não o vença! Precisará a vida inteira pedir perdão a Deus, arrependido. E a prova de que está arrependido será a luta para não cair novamente, mesmo sabendo que será dificílimo. A sua luta é que faz toda a diferença! Porém, se por não conseguir vencer o pecado, eu começar a achar que é assim mesmo, que não consigo, que não tem jeito ou até mesmo que não há nada demais no pecado, então como brotará o arrependimento em meu coração? Como pedirei perdão, se já acho que não fiz nada de errado? A misericórdia de Deus é infinita...para aqueles que se arrependem.

          Dois exemplos práticos, um homo e outro hétero. Um homossexual (ou hétero) que mantém relações sexuais sem ser casado e um casado que adultera com outra (o) estão ambos infringindo o mandamento que diz: “não pecar contra a castidade”. Ambos estão, objetivamente, a caminho do inferno, da condenação eterna. Estamos julgando o fato em si, porém, subjetivamente, é impossível aos homens saber o quanto cada um destes luta contra o que está fazendo, escravizado pelo desejo sexual. Deus, o justo juiz, conhece as atenuantes do pecado, o que levou o pecador a agir assim, o que o influenciou, quais traumas sofreu, até que ponto é fraqueza ou safadeza, etc, etc, etc. Se, objetivamente, sabemos que aquela pessoa está a caminho do inferno, devemos alertá-lo quanto ao risco que corre de condenar a sua alma ao inferno por toda a eternidade. Como não conhecemos, subjetivamente, o que levou cada um a cometer o pecado que cometeu, devemos sempre rezar e, nesse caso, cabe o que o Papa Francisco disse certa vez: “quem sou eu para julgar?”. O Ato em si é condenável (e deve ser julgado condenável), mas as intenções, influências, lutas internas, tudo aquilo que não temos como saber, fica nas mãos de Deus. Por isso a Igreja sempre convida ao arrependimento, à Confissão sacramental e à luta! Se o casado que está adulterando começa a se dar desculpas, como “mas eu amo a minha amante”, “eu sou fraco mesmo”, “homem é assim mesmo”, “mas minha mulher não me entende...ou...mas meu marido não me entende”, essas desculpas são como se dissesse: “não quero mudar! Dá trabalho mudar, não quero lutar, pra mim está bom assim”. Cada um de nós somos livres para escolher entre o que é Bom e o que é Mal, entre o fogo e a água, entre o certo e o errado, e sofreremos as consequencias de nossas escolhas. Mas à Igreja cabe orientar o que é Bom e Mal, o que é certo e errado, para que possamos fazer essa escolha! Se você seguirá ou não, é livre para decidir, inclusive pelo caminho ruim. Mas deve ter a consciência de duas coisas: 1) Onde esse caminho ruim vai lhe levar; 2) Deus estará sempre (como na parábola do filho pródigo) esperando que você volte-se para Ele, arrependido, e lhe peça perdão, e a sua misericórdia o acolherá.

          Outra coisa que merece ser dita é que existem estudos sérios (ou ao menos parecem) que mostram que em cerca de 80% dos casos de homossexuais que não estão satisfeitos com sua condição e fazem um acompanhamento psicológico, conseguem voltar a ter uma vida hétero novamente. O problema é que aqui no Brasil qualquer estudo que não traga as conclusões já escolhidas é taxado de homofobia. Pode-se até não concordar com o resultado desses estudos, mas ignorá-los mostra na verdade um preconceito (ter um conceito sem conhecimento) do lado LGBT. E um outro estudo feito nos EUA também mostra que o aumento do número de homossexuais nos seminários católicos é proposital, difundido para destruir a moral católica por dentro. Muita coisa mereceria ser melhor aprofundada nesse texto, mas tornaria ele um livro e não um texto. 

          Texto longo, não tenho certeza se concluí bem, com certeza precisarei também voltar ao tema. Convido a ler Rom 1,18-32, que fala claramente sobre homossexualismo. Pode a Igreja um dia alterar esse ensinamento? Logicamente que não, o homossexualismo é condenável e quem o pratica está, objetivamente, caminhando para o inferno. Como não conhecemos os motivos que levaram a essa prática (o subjetivo), a Igreja sempre convidará à lutar contra esse desejo desordenado. Ao homossexual que teve a paciência de ler até o final, e que tem o desejo de não se afastar de Deus, apesar desse desejo que não pode evitar ou entender, eu lhe digo que a sua luta é a luta de todos nós: Castidade! O homossexual que não consegue vencer esse desejo, mas luta, está muito mais justificado do que o hétero que transa com sua namorada e acha isso normal, porque os tempos mudaram, porque é jovem, etc. O homossexual que se entrega a Deus e não deixa de lutar, ainda que caia e seja julgado injustamente pela sociedade ou pela Igreja (pelas pessoas, entenda-se), está muito mais justificado do que o casado (hétero) que usa camisinha ou anticoncepcional, ou que pratica com a esposa (ou marido) o sexo anal e/ou oral e acha que não há nada demais nisso. Deus é fiel e vê quanto cada um luta para honrar o templo do Espírito Santo, que é o nosso corpo. Deus tudo vê, inclusive a hipocrisia de muitos que julgam os que lutam e já se entregaram aos prazeres de maneira desregrada, mas se escondem atrás de uma máscara social.

2 comentários:

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  2. Texto bem extenso mas muito bem escrito...
    Parabéns meu amigo...
    Sem dúvida nenhum um tema polêmico e muito delicado de se debater nos dias atuais...

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