sexta-feira, 30 de outubro de 2020

QUE LIVRO SENSACIONAL!

   Esse texto já foi escrito há tempos (foi postado no antigo blog em agosto de 2015), mas eu precisava resgatá-lo para meu novo blog.

                           OS JESUÍTAS


     Esse é sensacional! Há anos procuro este livro e não acho. No mercado livre tem, mas o preço é terrível; encontrei um site que tirava cópias do livro e cobrava apenas o frete e as xerox, mas quando entrei em contato o responsável disse que o livro não estava mais disponível. Até que, um belo dia, navegando na net (até tinha pensado em buscar na deep web, mas resisti à tentação), encontrei-o disponível para leitura em http://pt.scribd.com/doc/245951302/Livro-Os-Jesuitas-e-a-Traicao-a-Igreja-Catolica-Malachi-Martin#scribd. Grátis!
     O autor traça toda a história dos jesuítas desde a fundação, com santo Inácio de Loyola, o ideal inaciano, todas as maravilhosas contribuições que os jesuítas deram à Igreja e à humanidade, suas façanhas, perseguições, até que...uma heresia chamada Modernismo começou a brotar no seio jesuíta. Essa heresia (condenada por são Pio X no início do século XX) foi se infiltrando e criando forças através, principalmente, do padre George Tyrrel, logo após ele o padre Teilhard de Chardin, até chegar, enfim, à Teologia da Libertação (cujo um dos grandes nomes é um outro jesuíta, Gustavo Gutierrez). A acusação principal do autor é ao superior (padre-geral) Pedro Arrupe, que teria sido omisso em relação aos jesuítas que pregavam doutrinas contrárias à doutrina da Igreja, até mesmo apoiando-os, teria liderado os jesuítas nesse afastamento do ideal inaciano e da santa doutrina Católica. Arrupe desobedecia (pelo que nos conta o autor) cinicamente ao Papa Paulo VI, não o apoiou nunca (em especial em relação à Encíclica Humanae Vitae) e com João Paulo II fez o mesmo, até ser afastado, deixando, no entanto, outros com os mesmos ideais desvirtuados.
     Há uma acusação não exatamente ao Concílio Vaticano II, mas ao que se chamou de "espírito do Concílio", que era sempre usado para justificar as idéias progressistas que surgiam, como abolir o celibato, ordenar mulheres, nivelar todas as religiões, aceitar o homossexualismo, ou seja, aquelas mesmas idéias de sempre. Nada disso é justificado no Concílio Vaticano II, mas é inegável que, a partir dele, tudo isso veio com mais força. Em todas as citações do Concílio e nas interpretações deste o autor é formidável, tem um visão sólida do Catolicismo e analisa sempre comparando as interpretações do Concílio (que ele reconhece que não foi claro, deu margem à interpretações erradas e foi responsável em parte pela confusão reinante na Igreja). Em relação ao Concílio Vaticano II sua posição parece ser a mesma de João Paulo II (e posteriormente Bento XVI) de que o Concílio foi mal interpretado. Os textos do Concílio nem sempre são claros, dando margem a mais de uma interpretação, onde os 'progressistas' se aproveitam para justificarem suas idéias novas, de acordo com o 'espírito do Concílio'.
     O autor dá um grande destaque a três Congregações Gerais dos jesuítas, onde todo esse caminho de abraçar a Teologia da Libertação foi preparado e acolhido com alegria: as de número 31, 32 e 33 (esta última já com o novo superior, padre Kolvenbach, que seguiu a mesma linha de Pedro Arrupe, segundo o autor). Ele (o autor) convida-nos a buscar as atas destas Congregações por nós mesmos e vermos o quanto os jesuítas se afastaram do seu ideal inaciano, daí o título do livro: 'Os Jesuítas - a Companhia de Jesus e a Traição à Igreja Católica'. Vi na internet que, em 2016, haverá outra Congregação Geral, se não me engano a de número 36.
     O livro não é um alerta ao reinado do Papa Francisco (que é jesuíta), até porque foi escrito em 1987, mas não deixa de nos fazer entender o aparente progressismo de nosso Papa atual. E não deixa de nos preocupar também em relação aos seus atos futuros, em especial ao sínodo 'contra' as famílias que se aproxima, em outubro. Deus nos ajude!
     Em relação ao autor, sei que ele pediu dispensa de seus serviços no Vaticano, mudou-se para os EUA e passou a celebrar Missa somente em particular (e no rito antigo da Igreja). Desligou-se dos jesuítas também e passou a escrever livros, como esse citado neste texto. Um sobre exorcismo que também tem em português ('Reféns do Diabo', no mercado livro tem e o preço é um absurdo) e vários romances. Os seus dois best-sellers mais comentados não foram lançados no Brasil: The Keys of this blood e Windswept House. Sei que o autor declarou ter lido o terceiro segredo de Fátima mas que, por obediência, não poderia revelar. Porém, nestes romances, ele é um visionário extraordinário, faz previsões acertadas demais (segundo os que leram), o que nos leva a pensar que ele sabia coisas que a maioria não tinha conhecimento (como um plano a ser seguido, por exemplo). Por não poder dizer claramente, ele usa de seus romances para alertar aos leitores.
     Voltando ao livro, foi o melhor que li este ano (junto a "O mínimo que você precisa saber para não ser um idiota", de Olavo de Carvalho). Acusações sérias aos jesuítas vindas de um jesuíta que se manteve fiel à Igreja e ao Papa. Quer conhecer como surgiu a Companhia de Jesus? Quer saber quem foi santo Inácio de Loyola? Quer conhecer George Tyrrel, Teilhard de Chardin e a Teologia da Libertação? Quer saber porque o Papa João Paulo II combateu ferozmente essa teologia? Quer entender porque João Paulo II foi vaiado quando visitou a Nicarágua em 1983? Quer conhecer o Concílio Vaticano II de uma maneira mais crítica (e realista)? Esse é O livro. Merece ser lido e comentado.

Wilson Junior

Dom Eugênio de Araújo Sales e o grupo IDEAS

     Não tenho muitas lembranças de dom Eugenio Sales enquanto Cardeal do Rio de Janeiro. Seus artigos em jornais eram de uma complexidade que eu ainda não conseguia alcançar. E lembro-me dele no encerramento de um retiro de carnaval no Marcanazinho, quando celebrou a santa Missa. Ele não era lá muito simpático à Renovação Carismática mas era o Pastor daquele rebanho também. 

   Em minhas impressões, ele era um bispo fiel ao Papa João Paulo II e bem conservador (embora em minha época mais ativa na RCC não tivesse compreensão dessa diferença entre tradicionais, progressistas e carismáticos). "Conservador", para mim, significava não ser "renovado". 

   

   Interessante como agora, fazendo parte do grupo IDEAS (Instituto Dom Eugenio de Araújo Sales), pude conhecer um pouco mais desse que é o nosso modelo...e surpreender-me positivamente com ele. 

   Outra lembrança que tenho é de uma conversa que tive com d. Lourenço Fleshman, um padre tradicionalista. Dom Lourenço celebrava a Missa tridentina (aquela anterior à reforma litúrgica de 1969) muito antes de Bento XVI liberá-la a todos os padres (o Papa Paulo VI havia praticamente proibido). Dom Lourenço disse-me que procurou d. Eugenio para conversar e que foi recebido por ele (D. Eusébio, que sucedeu d. Eugenio, nem sequer recebeu d. Lourenço, quanto mais ouvi-lo). Segundo d. Lourenço, junto com seu pai, explicaram a d. Eugenio a situação desconfortável deles junto ao Concílio Vaticano II e à Reforma litúrgica, e lhe pediram respeitosamente permissão para continuar celebrando de maneira privada a Missa tridentina, apenas na sua capela são Miguel (que não é pertencente à Arquidiocese, embora fique no Cosme Velho), sem fazer propaganda, apenas por motivos de consciência. Dom Lourenço disse-me que lhe pediram de joelhos essa autorização, mas dom Eugenio não a teria dado. 

    Sobre a capela são Miguel, posso voltar a falar em outro texto (ou video). Continuando sobre dom Eugenio, tenho pesquisado mais sobre ele nos últimos meses e vi que ele foi um dos fundadores das CEB's e da Campanha da Fraternidade (ou melhor, foi pioneiro no serviço que eles realizaram, servindo de inspiração a eles), antes desses se tornarem um reduto para 'católicos' marxistas. A CF, por exemplo, nasceu em 1962, em Natal-RN, de maneira local, através dele (dom Eugenio) e outros dois padres. No ano seguinte várias outras localidades do Nordeste fizeram algo parecido e em 1964 a CNBB abraçou a ideia a nível nacional. 

   No dia 08/11 comemoraremos o centenário do nascimento de d. Eugenio Sales. Há muita coisa boa que precisamos resgatar de nosso antigo Pastor. Não penso nele como um santo mas certamente como um modelo de fidelidade à Igreja e ao santo Padre, um moderador equilibrado diante de mudanças tremendas que aconteceram na Igreja Católica em pouco tempo, tanto no Brasil como no mundo. 

   Estamos cientes de críticas feitas a ele. Abordarei isso aqui no blog também. Por enquanto fico por aqui, indicando um artigo dele sobre "A contestação dos valores morais", de 2010, incrivelmente atual para nós:  https://domeugeniosales.webnode.com.br/news/a%20contesta%c3%a7%c3%a3o%20dos%20valores%20morais/

Sobre o grupo IDEAS, nosso canal no youtube: https://www.youtube.com/channel/UCqlYTH6XKD1lJe33QwaTvtg



segunda-feira, 26 de outubro de 2020

EU JÁ ACREDITEI EM LULA E NO PT

 


EU JÁ ACREDITEI EM LULA E NO PT
Wilson Junior

          “Depois que inventaram o ‘está ruim’ nunca mais ficou ‘bom’”, diz um ditado popular. De fato, não me lembro de ter vivido alguma época em que as pessoas não reclamem da política. Sempre foi ruim. Tenho 41 anos, peguei o final da Ditadura Militar (já na verdade uma “Dita mole”) com o Presidente Figueiredo (lembro que passava no canal do Silvio Santos, na época TVS e não SBT “a semana do presidente”). Era uma criança mas tenho minhas lembranças da eleição para governador em 1982 no RJ, quando meu pai estava na dúvida se votava em Leonel Brizola ou em Miro Teixeira. A título de curiosidade, ele votou em Brizola e nunca mais mudou seu voto até morrer, era um brizolista mesmo. Logicamente eu não dava atenção demais a algo que eu não entendia muito bem. Tenho vagas lembranças da campanha pelas “Diretas Já”, da eleição (indireta) de Tancredo Neves e a comoção nacional que foi sua morte antes mesmo de tomar posse.

          Quando José Sarney assumiu a presidência (era o vice de Tancredo Neves) eu tenho algumas lembranças também da inflação inacreditável e de seus esforços com planos cruzados, cruzados novos, não sei mais o que, e durante um tempo chegamos até mesmo a achar que Sarney seria um bom presidente. As reclamações sempre existem e haverá sempre oposição e descontentes, mas, afinal de contas, assim é a Democracia, não é mesmo?

          Em 1989 haveriam eleições diretas para presidente pela primeira vez em décadas! Como as coisas sempre estavam ruins, todos queriam mudanças, melhorias, etc, tudo aquilo que todos sempre querem. O PT veio com um candidato que (eu me lembro) todos diziam que não tinha nenhuma chance: Luís Ignácio Lula da Silva, com um perfil bem comunista. Os favoritos eram Leonel Brizola (duas vezes governador do RJ) e o campeão das pesquisas Fernando Collor de Melo, o “caçador de marajás” (assim ganhou fama). Lula, que no início não era nada nas pesquisas, atrás destes que citei e de Mário Covas, Paulo Maluf, Ulisses Guimarães, etc, foi subindo nas pesquisas como uma opção meio que radical contra toda a política ruim que estava no Brasil. Mas, por que não arriscar? Ele subiu, ultrapassou Brizola e chegou ao segundo turno contra Collor numa campanha inesquecível (eu tinha 14 anos e não votava ainda). A derrota para Collor adiou o sonho de Lula, mas fez o PT crescer em todo o país.

          Fernando Collor foi um campeão de escândalos! Não sofreu o impeachment à toa, mas não quero me prender demais na história política do Brasil, para não me alongar demais. O PT cresceu, Lula enfrentou Fernando Henrique Cardoso (do PSDB) mas perdeu duas vezes. Fernando Henrique venceu com a moral de ter sido ministro de Itamar Franco e por ter levado os méritos de ter estabilizado a moeda brasileira, criando o Real. Sair da inflação absurda que tínhamos era uma conquista e tanto. Se o primeiro mandato de FHC foi bom, o segundo foi ruim (segundo minhas impressões da época) e deu força para que Lula derrotasse, se não me engano, José Serra e chegasse, enfim, à presidência, em 2002.

          O que eu não sabia é que, desde 1990, Lula havia criado (junto com Fidel Castro, de Cuba) uma organização internacional que ficou conhecida como FORO DE SÃO PAULO, que reunia lideranças de Esquerda de toda a América Latina. O que eu não sabia é que nos grupos que fazem parte do FORO estão partidos políticos e até organizações criminosas, como o MIR (do Chile) e as FARC (da Colômbia). O que eu não sabia é que, numa das eleições para presidente que Lula venceu, a disputa foi apenas um circo armado para nos enganar (toda a população), pois os candidatos todos eram filiados ao FORO DE SÃO PAULO e já tinham resolvido apoiar LULA como futuro presidente do Brasil. Nem vou falar do Diálogo Inter-Americano, no qual Lula e FHC fizeram partes (inimigos? FHC estava lá quando Lula fundou o PT, juntinho).

          Ao tomar conhecimento disso e de muito mais coisas sobre o PT, Lula e toda a ideologia socialista-comunista e tudo o que ela fez no mundo inteiro (veja a URSS, China, Cuba, Vietnã e por aí vai: massacres em cima de massacres, chacinas covardes, corrupção monstruosa), a imagem bonita que Lula e o PT tinham caiu. Não se trata de algumas pessoas corruptas no governo, afinal de contas, onde há dinheiro, poder e seres humanos, haverá corrupção. A ideologia deles é corrupta e corruptora. É criminosa e incentiva a criminalidade. “Verdade” não existe para eles, senão como um meio de chegar ao poder. Não estão em busca de justiça, verdade, valores. Não há moral. Mesmo os partidos de “oposição” não fazem oposição real, é tudo um joguinho entre eles. O PSDB sempre se sentiu mais à vontade como oposição do que como governo (governar é bem mais difícil que fazer oposição, embora menos lucrativo).

          Imaginem um traficante numa favela qualquer que, no dia das mães, dá rosas e presentes a todas as mães da favela, que, no dia das crianças, dá brinquedos e festas para as crianças da favela se divertirem. Esse traficante será amado pela comunidade, mas não deixará de ser um criminoso, um bandido, um traficante, por isso. Eu, como cidadão, não quero comodidades com dinheiro roubado, a custa de jovens se drogando, enfim, não quero melhorias de vida de maneiras ilícitas.

          O PT e todos os partidos brasileiros filiados ao FORO DE SÃO PAULO (de cabeça: PDT, PCdoB, PCB, PPS; obs: o PSDB não faz parte oficialmente do FORO mas também nunca o denunciou, o que acaba dando na mesma safadeza, peca por omissão) são uma vergonha para o Brasil. Como explicam as mais do que comprovadas ligações do FORO com o narcotráfico? Quem pagas as despesas de todos os encontros do FORO até hoje: caixa 2 ou tráfico de drogas? Nada foi declarado até hoje. Há dezenas de vídeos comprovando as operações criminosas do FORO e de como colocaram quem eles quiseram em vários países da América Latina (Hugo Chaves, Morales, Maduro, os Kirchner, etc), isso da boca deles mesmos, dos próprios cabeças: Lula, Chaves, Raul Reyes (das FARC), etc.

          Ainda que o PT tivesse dado ao país todas as melhorias sociais que afirmam (e que é mais do que discutível), eu não quero que meu país cresça liderado por bandidos e com apoio do tráfico de drogas (das FARC e de CUBA). Prefiro passar dificuldades financeiras, mas fazendo o que é certo.


          Fora Dilma, Fora Lula, Fora PT e Fora FORO DE SÃO PAULO!

terça-feira, 20 de outubro de 2020

"Não temos tempo a perder" ou "Temos nosso próprio tempo?"

 

A EXPERIÊNCIA DO TEMPO NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA

     *por Wilson Junior

           Este texto abaixo foi um trabalho que apresentei na faculdade. Levei nota 2 (!!!) por ele, mas publico aqui porque eu, particularmente, gostei muito (apesar da nota). O trabalho era pra ser uma comparação de um vídeo e de um texto. Talvez meu avaliador (a) não tenha gostado de eu ter incluído um terceiro personagem nas comparações, ou talvez não tenha concordado com minhas conclusões. Que o leitor avalie. 

           Hoje temos a percepção de que estamos perdendo tempo, o tempo está acelerado na nossa sociedade, “não temos tempo a perder” (Renato Russo), ao mesmo tempo em que a juventude parece ter “todo o tempo do mundo”. O homem moderno passou a realizar tudo com muita rapidez. As grandes empresas precisam produzir muito e rápido, e também precisam vender rapidamente para que esse processo não pare, as tecnologias, sempre se atualizando de maneira rápida, ajudam a acelerar o nosso tempo, assim como os transportes, cada vez mais rápidos. Se é assim, deveríamos estar ganhando tempo e não com a sensação de estar perdendo tempo, não é mesmo?

   
           Essa experiência do tempo na sociedade contemporânea é o que Olgária Matos vai tentar explicar no vídeo “Tempo sem experiência” (https://www.youtube.com/watch?v=arANFGj10Tg). Também Hartmut Rosa no texto “Os prazeres da motocicleta” (tentei encontrar o texto na internet, mas não encontrei) trata do mesmo assunto, com algumas variantes, obviamente.


           Olgária Matos fala de uma falência de valores na sociedade, que faz com que nosso tempo disponível seja desprovido de propósito, o que me leva a lembrar de Viktor Frankl, um psicólogo judeu que fundou a chamada Logoterapia. No livro “Em busca de sentido”, Frankl, já no prefácio, identifica como “uma expressão de miséria dos nossos tempos: se centenas de milhares de pessoas procuram um livro cujo título promete abordar o problema do sentido da vida, deve ser uma questão que as está incomodando muito”.

          Porém, o que Viktor E. Frankl explica com genialidade em seu livro, Olgária Matos e Harmut Rosa tentam falar de maneira confusa, causando talvez mais dúvidas do que antes de suas tentativas de explicar que o homem moderno sente um vazio existencial dentro de si que acaba tentando preencher com as drogas, com guerras (segundo Olgária) ou com uma liberdade (e desejo de poder e ser), cujo símbolo seria uma motocicleta (segundo Hartmut), “na experiência sensual de dominar a vida em alta velocidade”.


          O que faz com que o homem tenha esse vazio existencial, que acaba fazendo com que ele utilize mal seu tempo, fazendo com que o tempo disponível seja um tempo melancólico, tedioso, vazio, que lhe dá a impressão de estar perdendo tempo? Olgária identifica uma ausência de valores na sociedade contemporânea, quando compara com as sociedades medievais, principalmente, dizendo que o homem medieval dirigia seu tempo ao divino (“o homem ocidental, pelo menos”, ou, melhor diríamos, o homem europeu). E esse é justamente o ponto onde nem a filósofa (Olgária Matos) nem o sociólogo (Harmut Rosa) conseguem entender (ou pelo menos não mostram em seus respectivos trabalhos analisados aqui), e que o psicólogo (Viktor Frankl) analisa com maestria, sem precisar se voltar para uma religiosidade (que mereceria também estar nessa tentativa de explicação): “a vida tem um sentido potencial sob quaisquer circunstâncias, mesmo as mais miseráveis”. Isso vindo de um homem que, inclusive, esteve preso num campo de concentração nazista, durante a Segunda Guerra Mundial, e sobreviveu a ele, tem um grande valor.

          Olgária chega a se perder em análises sobre o capitalismo e, embora seja muito aproveitável o que ela diz, sem dúvida, é também explicado de uma maneira confusa. Traz comparações entre melancolia, tédio, acídia, tentando adornar sua explicação, mas acaba sendo pouco objetiva e trazendo mais informações do que o necessário para entender o que ela quer dizer e refletir. Harmut também não encontra uma solução objetiva à questão. Este fala sobre a motocicleta, como já dissemos, ser o símbolo da “alta modernidade”, mas também fala sobre o símbolo da “modernidade tardia” ser o hamster correndo num círculo, apressado, sem sair do lugar. Ambos não conseguem chegar, como Frankl chegou, a uma conclusão objetiva, de que o homem procura um sentido à sua vida.

          Gordon Allport, também psicólogo, que escreveu o prefácio da edição norte-americana do livro “Em busca de sentido” (Frankl), disse: “A vida é sofrimento, e sobreviver é encontrar sentido na dor. Se há, de algum modo, um propósito na vida, deve havê-lo também na dor e na morte. Mas pessoa alguma pode dizer à outra o que é esse propósito. Cada um deve descobri-lo por si mesmo e aceitar a responsabilidade que sua resposta implica”. No livro, Viktor Frankl cita ainda uma frase do filósofo Nietzsche, que se encaixa bem no que ele está ensinando: “Quem tem por que viver pode suportar quase qualquer como”.



           Impossível também não lembrar dos filósofos cristãos, quando lemos o que Gordon Allport escreveu. É como se a resposta à falta de valores de que Olgária Matos percebe já estivesse respondida há séculos, mas por não quererem uma resposta cristã à pergunta do sentido da vida (e também por se alimentar demasiadamente de fontes marxistas, tanto Olgária quanto Harmut), ficam a divagar sobre o tema sem conseguir chegar a um desfecho objetivo útil. Viktor Frankl não se utiliza dos valores cristãos (ele é judeu) apenas, mas de tudo aquilo que pode dar sentido à vida de um ser humano, para que este tenha um propósito de vida.

           A sociedade atual, perdida, sem valores, cada vez mais voltada para prazeres e divertimentos (esse é um dos motivos, objetivamente falando, de sua falta de sentido, mas que tanto a filósofa quanto o sociólogo falham miseravelmente em identificar), em busca de coisas primárias, mesmo tendo a possibilidade de transcender, coloca o sexo como uma necessidade básica do ser humano (e, na prática, coloca o sexo como um “valor” a ser buscado e experimentado). No campo de concentração nazista, o psicólogo notou que o instinto sexual não se manifestava. Naquele momento terrível, o sexo não era tão básico e importante quanto a sociedade contemporânea quer nos fazer crer. Em contrapartida, o “interesse religioso dos prisioneiros, quando surgia, era o mais ardente que se possa imaginar. Não era sem um certo abalo que os prisioneiros recém-chegados se surpreendiam com a vitalidade e profundidade do sentimento religioso”.

          Em seus trabalhos, tanto a filósofa quanto o sociólogo, ignoram completamente o sentimento religioso. Preferem voltar suas análises à parte política (que o psicólogo também analisa, por isso ser o seu um trabalho completo), a condições de trabalho advindas do capitalismo selvagem. Parecem que estão, também eles, “em busca de sentido”, para tentar explicar a experiência do tempo na sociedade contemporânea. “No campo de concentração se pode privar a pessoa de tudo, menos da liberdade última de assumir uma atitude alternativa frente às condições dadas. E havia uma alternativa!” (Frankl).


          Talvez a melhor parte do livro de Frankl, e que fala sobre esse sentido, esse propósito de vida que estamos refletindo, tanto no texto de Harmut Rosa quanto no video de Olgária Matos, que faria com que a sensação de tempo perdido, de uma experiência vazia, esteja neste parágrafo:
          “A maioria preocupava-se com a questão: ‘será que vamos sobreviver
           ao campo de concentração? Pois, caso contrário, todo esse sofrimento
           não tem sentido’. Em contraste, a pergunta que me afligia era outra: ‘será
           que tem sentido todo esse sofrimento, essa morte ao nosso redor? Pois,
           caso contrário, afinal de contas, não faz sentido sobreviver ao campo
           de concentração” (FRANKL, Viktor. “Em busca de sentido”, Ed. Vozes, pág 90)

          O psicólogo se saiu melhor que a filósofa e o sociólogo, mas todos dão grande contribuição ao tema, para que possamos fugir à acídia (preguiça espiritual), à melancolia e ao tédio, e assim chegarmos a uma vida que tenha um propósito, um sentido. 
 
 
 
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