Não tenho muitas lembranças de dom Eugenio Sales enquanto Cardeal do Rio de Janeiro. Seus artigos em jornais eram de uma complexidade que eu ainda não conseguia alcançar. E lembro-me dele no encerramento de um retiro de carnaval no Marcanazinho, quando celebrou a santa Missa. Ele não era lá muito simpático à Renovação Carismática mas era o Pastor daquele rebanho também.
Em minhas impressões, ele era um bispo fiel ao Papa João Paulo II e bem conservador (embora em minha época mais ativa na RCC não tivesse compreensão dessa diferença entre tradicionais, progressistas e carismáticos). "Conservador", para mim, significava não ser "renovado".
Interessante como agora, fazendo parte do grupo IDEAS (Instituto Dom Eugenio de Araújo Sales), pude conhecer um pouco mais desse que é o nosso modelo...e surpreender-me positivamente com ele.
Outra lembrança que tenho é de uma conversa que tive com d. Lourenço Fleshman, um padre tradicionalista. Dom Lourenço celebrava a Missa tridentina (aquela anterior à reforma litúrgica de 1969) muito antes de Bento XVI liberá-la a todos os padres (o Papa Paulo VI havia praticamente proibido). Dom Lourenço disse-me que procurou d. Eugenio para conversar e que foi recebido por ele (D. Eusébio, que sucedeu d. Eugenio, nem sequer recebeu d. Lourenço, quanto mais ouvi-lo). Segundo d. Lourenço, junto com seu pai, explicaram a d. Eugenio a situação desconfortável deles junto ao Concílio Vaticano II e à Reforma litúrgica, e lhe pediram respeitosamente permissão para continuar celebrando de maneira privada a Missa tridentina, apenas na sua capela são Miguel (que não é pertencente à Arquidiocese, embora fique no Cosme Velho), sem fazer propaganda, apenas por motivos de consciência. Dom Lourenço disse-me que lhe pediram de joelhos essa autorização, mas dom Eugenio não a teria dado.
Sobre a capela são Miguel, posso voltar a falar em outro texto (ou video). Continuando sobre dom Eugenio, tenho pesquisado mais sobre ele nos últimos meses e vi que ele foi um dos fundadores das CEB's e da Campanha da Fraternidade (ou melhor, foi pioneiro no serviço que eles realizaram, servindo de inspiração a eles), antes desses se tornarem um reduto para 'católicos' marxistas. A CF, por exemplo, nasceu em 1962, em Natal-RN, de maneira local, através dele (dom Eugenio) e outros dois padres. No ano seguinte várias outras localidades do Nordeste fizeram algo parecido e em 1964 a CNBB abraçou a ideia a nível nacional.
No dia 08/11 comemoraremos o centenário do nascimento de d. Eugenio Sales. Há muita coisa boa que precisamos resgatar de nosso antigo Pastor. Não penso nele como um santo mas certamente como um modelo de fidelidade à Igreja e ao santo Padre, um moderador equilibrado diante de mudanças tremendas que aconteceram na Igreja Católica em pouco tempo, tanto no Brasil como no mundo.
Estamos cientes de críticas feitas a ele. Abordarei isso aqui no blog também. Por enquanto fico por aqui, indicando um artigo dele sobre "A contestação dos valores morais", de 2010, incrivelmente atual para nós: https://domeugeniosales.webnode.com.br/news/a%20contesta%c3%a7%c3%a3o%20dos%20valores%20morais/
Sobre o grupo IDEAS, nosso canal no youtube: https://www.youtube.com/channel/UCqlYTH6XKD1lJe33QwaTvtg
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