domingo, 25 de novembro de 2018

ABOMINAÇÃO DA DESOLAÇÃO NO FRATRES

          Coincidentemente o site do FRATRES IN UNUM trouxe o mesmo tema que coloquei no último texto, sobre a "Abominação da desolação", que pode ser conferido aqui: https://fratresinunum.com/2018/11/24/coluna-do-padre-elcio-a-abominacao-da-desolacao-no-lugar-santo/

          Porém, o padre Élcio não entra exatamente nessa polêmica.
          Só quem se arrisca numa interpretação sobre a "Abominação da desolação" são pentecostais protestantes alienados (que vão atacar a Igreja Católica), católicos tradicionalistas radicais e sedevacantistas (que vão atacar a Reforma Litúrgica de 1969, do Papa Paulo VI).

          Então: VAMOS COM CALMA!

terça-feira, 20 de novembro de 2018

A ABOMINAÇÃO DA DESOLAÇÃO




*por Wilson Junior

          “Quando virdes estabelecida no lugar santo a abominação da desolação que foi predita pelo profeta Daniel (9,27) – o leitor entenda bem* -, então os habitantes da Judéia fujam para as montanhas. Aquele que está no terraço da casa não desça para tomar o que está em sua casa. E aquele que está no campo não volte para buscar suas vestimentas. Ai das mulheres que estiveram grávidas ou amamentando naqueles dias! Rogai para que vossa fuga não seja no inverno, nem em dia de sábado; porque então a tribulação será tão grande como nunca foi vista, desde o começo do mundo até o presente, nem jamais será. Se aqueles dias não fossem abreviados, criatura alguma escaparia; mas por causa dos escolhidos, aqueles dias serão abreviados.”

          Estas palavras que estão descritas em Mateus 24, 15-22, ditas pelo próprio Jesus, são de tirar o fôlego em relação ao final dos tempos. A “abominação da desolação”, segundo a nota da Bílblia da editora Ave-Maria, diz o seguinte: “esta expressão deve designar os estandartes romanos que os exércitos de Tito implantaram no Templo de Jerusalém. Os versículos 15-21 dizem respeito às circunstâncias que acompanharam a ruína de Jerusalém”. Ou seja, por essa nota, Jesus estaria citando algo que já acontecera, mas que se repetiria de maneira bem mais intensa. Na Bíblia de Jerusalém, a nota explicativa diz que “ao que parece, Daniel designava com essa expressão um altar pagão que Antíoco Epífanes ergueu no Templo de Jerusalém em 168 a.C. (cf. 1Mc 1,54). A aplicação evangélica realizou-se quando a Cidade santa e o seu Templo foram atacados e depois ocupados pelos exércitos gentílicos de Roma (cf. Lc 21,20)”.

          Vamos às outras palavras citadas, primeiro em Macabeus: “No dia quinze do mês de Casleu, do ano cento e quarenta e cinco, edificaram a abominaçao da desolação por sobre o altar e construíram altares em todas as cidades circunvizinhas de Judá” (1 Mac 1,54). Neste trecho a nota da Bíblia da Ave-Maria diz o seguinte: “A abominação da desolação: expressão tirada de Daniel 12,11. Tratava-se de um pequeno altar construído por sobre o altar dos holocaustos e destinado ao culto idólatra”. Neste trecho a nota da Bíblia de Jerusalém é bem mais específica: “A abominação da desolação (Dn 9,27 e 11,31), era o altar de Baal-Shamem ou Zeus Olímpico, erigido sobre o grande altar dos holocaustos”. Em Daniel 12,11 (citado pela nota da Bíblia da Ave-Maria) diz assim: “Desde o tempo em que for suprimido o holocausto perpétuo e quando for estabelecida a abominação do devastador, transcorrerão mil duzentos e noventa dias”, onde a nota vai dizer: “É difícil decidir se essas indicações têm realmente duplo alcance: um, referente aos tempos macabeus; outro, simbólico, referente ao ‘fim dos tempos’”. Com todo o respeito à interpretação da nota, não parece tão difícil ver que há um “duplo alcance” sim, ou mais, um triplo alcance. Primeiro em relação aos tempos macabeus, segundo em relação à ruína de Jerusalém e outra relativa ao final dos tempos. Jesus, em Mt 24, fala de uma tribulação tão grande como nunca foi vista desde o começo do mundo e jamais será. A destruição que os romanos impuseram à Jerusalém no ano 70 d.C. foi grande, mas longe de ser a pior de todos os tempos. Ou Jesus se enganou? Obviamente que não!

          Outra palavra citada foi Lucas 21,20: “Quando virdes que Jerusalém foi sitiada por exércitos, então sabereis que está próxima a sua ruína”. É a mesma palavra de Mateus, mas não fala em “abominação da desolação”. Esta expressão, já citada em Daniel e Macabeus, seria bem compreendida pelos leitores de são Mateus, que escreveu para judeus convertidos, mas não seria bem entendida pelos leitores de são Lucas, que escreveu para pagãos convertidos.

          Faltaria a mim compreender melhor o contexto da passagem em Macabeus e Daniel, além de buscar historicamente como foi a destruição de Jerusalém no ano 70 d.C. Só depois disso e de procurar no Magistério dos Papas o que pode ser para nós essa expressão “Abominação da desolação” (embora eu acho que não há nada específico sobre isso no Magistério) é que poderia ser feita uma tentativa de interpretação. Tenho impressão que ir fundo nesse tema não trará coisas muito agradáveis, e que poderão amedrontar aqueles que não querem sair da acomodação, da sua zona de conforto. Quem tem medo da Verdade? Eu creio que a Verdade é Jesus Cristo! Ele, meu Senhor, dê-me o tempo, humildade e a disposição necessária para prosseguir nesse estudo! 

segunda-feira, 19 de novembro de 2018

CRÍTICAS AO CHAMADO "PROJETO ÂNCORA"

    Deparei-me com um trabalho da faculdade nesse período onde teria que fazer uma análise sobre o "Projeto Âncora", que conheci através do youtube: https://www.youtube.com/watch?v=kE6MlnwML8Y. Não o vi com bons olhos e fiz minha análise, já esperando aquela nota baixa, embora acredite que meu trabalho está bem argumentado e com referências. O fato de ser discordante por si já me deixou esperando receber uma nota baixa. Para minha surpresa total, minha nota foi 10, e gostaria de partilhar aqui o texto avaliado.




ESCOLAS INOVADORAS: PROJETO ÂNCORA
por Wilson Junior


          O projeto ÂNCORA iniciou-se (em 1995) como um reforço escolar numa ONG, em Cotia-SP, mas cresceu e hoje existe como uma escola (a partir de 2012), apresentando uma maneira diferente de educar as crianças e levá-las ao aprendizado.
          A criança é educada num ambiente diferente, não em salas de aula com quadros de onde precisaria copiar coisas, mas em contato com a natureza, priorizando as suas escolhas pessoais de interesse de aprendizado, mesclando com atividades esportivas e/ou de recreamento, respeitando o tempo que cada uma delas leva para assimilar o conhecimento que está sendo passado. Há, inclusive, um circo no meio da ONG (da escola) e diversas atividades são realizadas por lá. Os professores incentivam ao máximo a liberdade e a capacidade do aluno, priorizando a cidadania, e não tanto o conhecimento cognoscível.
          É como uma mescla entre as ideias de Piaget e Vygotski, com maior ênfase no segundo, num sócio-construtivismo, interagindo o aluno com o social e estimulando o aprendizado fora do ambiente tradicional de sala de aula. No projeto Âncora não há séries, mas sim etapas de aprendizado, que não necessariamente tem a ver com a idade, algo como Vygotski idealizou, e o projeto tem crescido e despertado o interesse Brasil afora.
          Problemas? Pesquisei na internet e não encontrei críticas ao estilo de escola adotado, mas de imediato lembrei-me de uma frase de Olavo de Carvalho: “Um mundo que confia seu futuro ao discernimento dos jovens é um mundo velho e cansado, que já não tem futuro algum” (artigo “O imbecil juvenil”, Jornal da Tarde, SP, 03/04/98). Parece que essa é uma tendência em todos os níveis hoje em dia, a de deixar o jovem guiar o futuro (e não orientá-lo para tal). Assim vemos, por exemplo, músicas que dizem “Eu sou assim...quem quiser gostar de mim, eu sou assim” (comercial da Natura) ou outdoors apresentando um curso de inglês onde uma criança emburrada diz que “se não for pra aprender do meu jeito, eu não quero”. O resultado disso só pode ser adultos que serão como crianças mimadas, incapazes de lidar com as pressões que a vida vai oferecer sem pena. O jovem ou a criança, que nem mesmo conhecem a si mesmos, se colocam como os protagonistas da sua própria formação, absurdamente. Olavo de Carvalho, no mesmo artigo acima citado, comenta: “Eis o motivo pelo qual a juventude, desde que a covardia dos adultos lhe deu autoridade para mandar e desmandar, esteve sempre na vanguarda de todos os erros e perversidades do século: nazismo, fascismo, comunismo, seitas pseudo-religiosas, consumo de drogas. São sempre os jovens que estão um passo à frente na direção do pior”. Talvez Olavo tenha exagerado ou seja pessimista demais, mas quando vemos as mudanças que ocorreram na educação brasileira e o lugar em que nos encontramos, precisamos ter humildade (como nos pede Leandro Karnal num dos vídeos propostos para estudo) de voltar o olhar para trás, para ver onde nos desviamos, e não seguir em frente, mesmo não vendo resultados significativos. A educação brasileira está sempre tirando os últimos lugares nos testes internacionais, e mesmo assim transformou-se Paulo Freire, por exemplo, no Patrono da Educação.
          No vídeo sobre o projeto Ãncora, há uma hora em que chegam a dizer que o conhecimento cognoscível não é o importante ali, e isso me lembra o que outro autor escreveu em “Maquiavel Pedagogo” (editora Ecclesiae, 2013). Neste livro, o autor (Pascal Bernardin) se aprofunda nos textos oficiais de órgãos como a ONU, a UNESCO, entre outros, e denuncia que “os ensinos formal e intelectual são negligenciados em proveito de um ensino não cognitivo e multidimensional, privilegiando o social” e que, para isso, esses órgãos se utilizam de “técnicas de manipulação psicológica e de lavagem cerebral”. É por isso que, para esse autor, o nível escolar seguir decaindo (no caso ele analisa a situação nos EUA) não é surpresa, mas consequencia das escolas adotarem modelos não intelectuais, mas adotarem como missão a formação social dos alunos. A acusação do autor é grave, mas se baseia em documentos, o que nos leva a temer o futuro onde escolas como o modelo do projeto Âncora nos levarão. Para não se estender demais, citarei apenas um documento, o “A modificação das atitudes” (1964, Paris, UNESCO), que diz: “os objetivos visados só serão atingidos quando a nova série de valores aparecer ao indivíduo como algo que ele tenha escolhido livremente”, ou seja, a UNESCO está incentivando o uso de técnicas de manipulação das massas para que eu e você pensemos que tomamos a decisão, mas sequer temos conhecimento de que escolhemos aquilo que eles já tinham escolhidos por nós. E nossa liberdade, onde fica?
          O projeto Âncora, assim, parece-me uma experiência que está sendo realizada, seguindo as diretrizes educacionais de órgãos internacionais do Ocidente, para criar pessoas dóceis ao seus líderes, e de certa forma foi isso o que Dr. Povalyaev, chefe do setor de sociologia da Bielorrússia, em 1989, na UNESCO, declarou: “Um dos paradoxos da sociedade moderna é o de que ela não tem necessidade de um grande número de pessoas instruídas. A seleção se opera por meio do que se chama ‘elite social’, que realiza o trabalho intelectual necessário. Aos demais compete ou a execução das decisões ou o exercício de cargos subalternos”. É para isso que estamos sendo educados, para sermos dóceis às mudanças que já foram decididas, sem levar em conta nossa liberdade ou capacidade, porque para a UNESCO nosso papel será o de preencher ‘cargos subalternos’, sempre governados pela ‘elite social’, algo parecido com o que já foi denunciado também na literatura, como em “Admirável mundo novo” (de Aldous Huxley) e “1984” (George Orwell).
          A educação brasileira (e ocidental em geral) tem sofrida déficits há décadas e assim continuará, enquanto estiver seguindo essa agenda internacional da ONU, que privilegia apenas a eles mesmos, em detrimento de nossa capacidade e liberdade. O modelo tradicional de aprendizado tinha seus defeitos? Claro que sim, todos os modelos de ensino terão problemas, e assim devem ser atualizados, mas nunca em detrimento do conhecimento cognoscível. Seguir esse modelo do projeto Âncora é aceitar sermos experiências de laboratório para esses órgãos, que sequer respeitam nossa liberdade, que sequer nos respeitam como sujeitos pensantes, mas que visam que nos calemos e apenas façamos o que eles acham que é o melhor para o mundo. E ainda nos manipulam para que tenhamos a ilusão de achar que nós é que escolhemos isso. Conhecer suas técnicas e seus objetivos, e denunciá-los, é necessário. Voltar ao ensinamento tradicional, privilegiando o conhecimento, também. As questões sociais devem ser tratadas, claro, mas no momento certo, não em detrimento do ensino, mas em acréscimo a ele. As mudanças que aconteceram nas famílias (como Ivan Capelatto cita em um dos vídeos, também proposto para este estudo) têm que ser levadas em conta, deve-se sim procurar conhecer a raiz dos problemas e das mudanças, mas deixar de privilegiar o ensino cognoscível apenas nos fará sermos sempre manipulados.

sábado, 17 de novembro de 2018

A CANONIZAÇÃO DO CONCÍLIO VATICANO II


    Este texto é, originalmente, de 22 de janeiro de 2018, bem anterior à canonização do Papa Paulo VI. Texto de Wilson V. M. Junior. 




     Já fazem mais de 50 anos do encerramento do maior acontecimento religioso do século XX (talvez apenas as aparições de Nossa Senhora em Fátima, Portugal, em 1917, tenha sido tão ou mais importante). Desde que o Papa João XXIII (hoje canonizado) o convocou, tendo seu início em 1962, encerramento em 1965 (já com o Papa Paulo VI, hoje beatificado) e como consequencia direta uma reforma litúrgica (em 1969) desastrosa, para dizer o mínimo, a Igreja vem celebrando como um acontecimento fenomenal, um divisor de águas, um novo tempo, uma atualização da Igreja perante as mudanças que ocorreram no mundo.

     Poucas vozes se levantaram contra o Concílio ou contra a reforma litúrgica. Afinal de contas, sempre há os insatisfeitos com tudo. Ao final do Concílio Vaticano I também houve aqueles que não concordaram com as decisões conciliares e até mesmo se afastaram. Ficaram conhecidos como os “Velhos Católicos”. Estes protestaram principalmente contra a decisão de proclamar como dogma a “infalibilidade papal”. As críticas dos “Velhos Católicos” foram perdendo força com o tempo e, hoje em dia, não há mais qualquer resquício destes, que acabaram absorvidos pelo Protestantismo. No caso do Concílio Vaticano II a coisa ficou um pouco mais complicada. Nas poucas vozes que se levantaram de imediato contra o Concílio, haviam cardeais (como o Ottaviani), o bispo francês Marcel Lefebvre e até um brasileiro, dom Antonio de Castro Mayer, bispo de Campos-RJ. Normalmente sempre há aqueles que não conseguem ser tão abertos a mudanças, mas estes críticos do Concílio Vaticano II (em especial dom Lefebvre e dom Castro Mayer), além de gritarem que o Concílio havia tomado decisões que contrariavam os ensinamentos anteriores da Igreja, negavam-se a celebrar a Missa no novo rito romano, oriundo da Reforma Litúrgica, e mantinham-se celebrando a Missa no rito tridentino, anterior à essa Reforma de 1969.

     Embora o rito Tridentino (hoje o rito extraordinário da santa Missa) nunca tenha sido proibido na teoria, na prática o Papa Paulo VI teve inúmeros atritos com d. Lefebvre por conta disso, sem conseguir êxito com o bispo francês. Este manteve suas posições firmes diante de sua Fraternidade São Pio X e com o apoio dos que ficaram conhecidos como “os padres de Campos” (com a liderança de d. Castro Mayer), até que em 1988 foram excomungados pelo Papa João Paulo II (hoje canonizado). Bem antes disso, o Papa Paulo VI fez um reconhecimento público de que os “frutos” do Concílio Vaticano II não estavam sendo o que ele esperava, a ponto de dizer que parecia que, por alguma brecha, “a fumaça de Satanás” havia penetrado na Igreja. Paulo VI não estava satisfeito com a “primavera” cinzenta que o Concílio fez surgir. Esse discurso, no entanto, só foi levado em conta por sedevacantistas (esqueci de mencionar estes) e os tradicionalistas como d. Lefebvre e d. Castro. O Papa Paulo VI passou, veio João Paulo I, mas este não teve tempo de fazer nada: em 33 dias estava morto. Em 1978 assume o papado o polonês Karol Woytila, João paulo II, que segue a linha entusiasta do Concílio Vaticano II, principalmente no Ecumenismo. Nem o atentado à sua vida que sofre em 1981 freia seu ânimo ecumênico, que ele chega a escrever num documento oficial (a “Ut Unum Sint”) que é um caminho irreversível para a Igreja Católica (o Ecumenismo, entenda-se). Este documento foi escrito em 1987 e, no ano seguinte, os atritos com a Fraternidade Sacerdotal São Pio X de d. Marcel Lefebvre chegaram ao seu clímax. Cansado de esperar autorização de Roma para ordenar novos bispos para a Fraternidade, d. Lefebvre (com o apoio sempre de d. Castro Mayer) ordena quatro novos bispos sem a autorização do Papa, que se enfurece com isso e excomunga os dois bispos envolvidos e os quatro novos ordenados.

     Abro um parágrafo rápido para citar os sedevacantistas. Estes, após o Concílio Vaticano II, não só não o reconheceram como um Concílio legítimo como também passaram a não reconhecer nenhum Papa posterior a Pio XII. Declaravam que a Sé estava vacante, ou seja, sem Papa reinante (daí o nome com que ficaram conhecidos). Chegaram ao absurdo de até mesmo proclamar um novo Papa (Pio XIII) mas este mesmo não levou essa insanidade até o fim, mudando de nome e perdendo-se completamente. Os sedevacantistas ainda existem e não são tão poucos assim, mas sem nenhuma força em Roma. A Fraternidade Sacerdotal São Pio X (FSSPX) não estava em comunhão com o Papa João Paulo II (não esteve com Bento XVI e continua não estando com o Papa Francisco), mas têm suas influências em Roma, mesmo após a morte de d. Lefebvre. O Superior da FSSPX agora é d. Bernard Fellay (um dos bispos que foram ordenados em 1988 e excomungado por João Paulo II).
Alguma coisa, porém, acontece com João Paulo II. O Papa que, em 1986, convocou o “encontro de Assis” com a presença de vários líderes de religiões mundiais, unidos em Assis (na Itália) para rezarem juntos pela paz, onde aconteceram coisas absurdas como uma estátua de Buda ser colocada sobre o sacrário para que os budistas fizessem seu ritual, como retirarem todas as imagens de Nossa Senhora para não desagradar aos visitantes, ou como galinhas serem sacrificadas no altar de santa Clara por uma religião tribal africana, este mesmo Papa parece seguir um novo rumo em seu pontificado. Em preparação ao jubileu do ano 2000, o Papa declara que os 3 anos anteriores ao jubileu serão oferecidos à Trindade Santa. Assim, 1997 será o ano de Jesus, 1998 o ano do Espírito Santo e 1999 o ano consagrado a Deus Pai. E, para surpresa de todos, no ano 2000 a FSSPX faz uma peregrinação ao Vaticano (por ocasião do jubileu) e, mesmo excomungados, reconhecem a autoridade do Papa João Paulo II. Teria sido o jubileu do ano 2000 e essa peregrinação da FSSPX que mexeram com o Papa? Teria sido influência da irmã Lucia de Fátima e seus apelos insistentes para que fosse ouvida a mensagem de Fátima? Seria influência de um tal Joseph Ratzinger, bispo que o Papa João Paulo II tornou prefeito da Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé e que tinha fama de ser bem ortodoxo? Teria sido seus atritos com a chamada Teologia da Libertação, de forte teor marxista, aqui na América Latina?

     O fato é que, ainda no ano 2000, o Cardeal Joseph Ratzinger lança a “Dominus Iesus”, com a aprovação de João Paulo II, que dá uma freada inesperada no Ecumenismo, onde declara, entre outras coisas polêmicas, que as comunidades que não apresentam ordenações sacerdotais válidas e nem uma Eucaristia válida sequer podem ser consideradas “igrejas”, pois apenas possuem elementos de igreja (é a exclusão de todo o Protestantismo; apenas as Igrejas Ortodoxas seriam, por essa declaração, consideradas ‘Igrejas’). Curiosamente é o mesmo ano em que, no Brasil, a Campanha da Fraternidade apresenta uma novidade: ela é feita em conjunto com as “igrejas” que fazem parte do CONIC, ou seja, pela primeira vez uma CF ecumênica. A CNBB não deu a mínima à “Dominus Iesus”, que foi muitíssimo criticada.

      Em 2003 o Papa João Paulo II surpreende novamente ao lançar a “Ecclesia de Eucharistia”, onde declara que o Concílio (já estamos quase entrando no tema do artigo) Vaticano II trouxe luz, mas também apareceram sombras. E afirma a santa Missa como a renovação do sacrifício da cruz, lembrando inclusive que a referência dogmática da santa Missa é o Concílio de Trento, e não o Vaticano II. Seguem-se uma série de tentativas de salvar a liturgia do caos que se tornou após a Reforma Liturgica, com abusos inacreditáveis ao redor do mundo (chegou-se a fazer a “Consagração” com biscoito e coca-cola, ao invés do pão e vinho; ‘missas’ festa, tango, gaúcha, afro, e por aí afora abundam pelo mundo).

      Bento XVI continua a linha do Papa João Paulo II em sua nova fase, e dá passos inacreditáveis em direção aos tradicionalistas, retira as excomunhões de d. Lefebvre, d. Castro Mayer e os 4 bispos ordenados por eles (declarando que essas excomunhões eram nulas desde o início, por não terem a intenção de um cisma), permite que estudiosos façam críticas ao Concílio Vaticano II, reabilita com a “Summorum Pontificum” a celebração da santa Missa no rito tridentino como uma forma extraordinária do mesmo rito romano, incentivando os sacerdotes a conhecerem mais este rito. Esta guinada tem seu trágico final quando o Papa Bento XVI anuncia sua renúncia, surpreendendo a todos.
É com o Papa Francisco que chego onde estou tentando chegar desde o início deste artigo. Um novo rumo se dá com Francisco. Na tentativa de blindar o Concílio Vaticano II das críticas cada vez maiores dentro da própria Igreja (e não mais apenas fora, de grupos sedevacantistas, ou meio/fora como os tradicionalistas), o Papa decide canonizar João XXIII (que convocou o Concílio e o iniciou) e João Paulo II (que levou o Ecumenismo às raias do absurdo, mesmo tendo recuado depois). É a inacreditável beatificação do Papa Paulo VI, porém, que me leva a entender que seu objetivo parece não ser exatamente canonizar João XXIII, João Paulo II ou Paulo VI. O Concílio Vaticano II é cercado de circunstâncias tão estranhas (como o acordo Roma-Moscou, a infiltração maçônica na Igreja, entre outras coisas) que somente uma atitude extrema poderia pôr fim às discussões sobre ele. Como criticar um Concílio convocado por um santo (João XXIII)? Como criticar o Ecumenismo do Concílio Vaticano II, se foi amplamente incentivado por um santo (João Paulo II)? Como criticar a Reforma Litúrgica, se foi iniciativa de um beato (Paulo VI)? A intenção parece clara para mim: calar os críticos de maneira a torná-los até mesmo ridículos. Assim, João XXIII é santo, Paulo VI é beato, João Paulo I é venerável (também está em processo de beatificação), João Paulo II é santo, e não tenho dúvidas que talvez Bento XVI (o Papa que teve a coragem de renunciar) e Francisco (o Papa humilde) terão também seus processos, após morrerem. Vivemos quase os tempos apostólicos! Já o Papa anterior ao Concílio (Pio XII) também está em processo de beatificação.

     O Papa não tem autoridade para canonizar quem ele quiser? Entraria no dogma da “infalibilidade” as canonizações e beatificações? Essas perguntas ficam difíceis na medida em que nos deparamos com a realidade. Se, no caso de João Paulo II, há algumas críticas (em relação ao Ecumenismo e outras coisas), e no caso de João XXIII há em dobro críticas, em relação à sua proximidade com membros da Maçonaria (sem contar o acordo Roma-Moscou e seu Ecumenismo também), no caso do Papa Paulo VI é que o caldo engrossa de vez. Paulo VI, além de muitas críticas que se poderia fazer, tem razoáveis denúncias de ter sido homossexual, e praticante, e inclusive enquanto Papa! Leve-se em conta a ‘coincidência’ absurda de ter sido beatificado durante um sínodo das famílias que tratava, entre outros assuntos, de homossexualismo. E após esse sínodo veio o documento “Amoris Laetitiae”, que alguns interpretaram de maneira a até mesmo criar uma nova pastoral, a da Diversidade, para acolher os irmãos homossexuais e inserí-los nas comunidades paroquiais. Quando for canonizado (alguém duvida?) e, se for confirmado que ele foi mesmo homossexual (será que há uma investigação séria da parte do Vaticano quanto a isso?), já não será mais um Papa que caiu em tentação, mas um precursor de uma nova era na Igreja (um homossexual santo!).

     São João Paulo II mudou seu pontificado. O Papa Francisco pode também mudar. Talvez sejam tudo grandes coincidências. Talvez eu e muitos outros estejamos cegos, ávidos em criticar o Papa, guiados por uma soberba tremenda, queremos ser mais católicos que a Igreja, mais santos que os santos, queremos saber mais que os Papas! Deus nos humilhe, para nosso próprio bem, se assim for. Hoje parece-me, no entanto, que algo não vai bem no Vaticano, e que somente com muita oração conseguir-se-á reverter esse quadro. Espero, de coração, que haja quem esteja investigando (da parte do Vaticano) essas acusações e críticas tão sérias feitas a João XXIII e Paulo VI, especialmente. Espero que ocorram debates com a coragem de criticar o Concílio Vaticano II e a Reforma Litúrgica de Paulo VI, pois são evidentes vários de seus maus frutos (sejamos justos em dizer que o Concílio e a Reforma também tiveram seus acertos, obviamente). Nenhum destes Papas tiveram a coragem de consagrar a Rússia ao Imaculado Coração de Maria, como foi pedido em Fátima. Nem o mais mariano dos Papas do século XX: João Paulo II! Segundo um estigmatizado italiano, Antonio Rufini, ao ser perguntado se João Paulo II seria o Papa que consagraria a Rússia, ele teria dito que não. “Nem ele nem seu sucessor, mas o que virá após esse”, ou seja, o Papa Francisco! Que mudança extraordinária acontecerá para que o Papa Francisco mude totalmente sua linha de pontificado e até mesmo reveja um assunto considerado encerrado pelo Vaticano (a consagração da Rússia)? Não sabemos...mas o que sabemos é que Deus está no controle de sua Igreja (nunca deixou de estar) e que Ele põe um limite ao mal. A consagração será feita quando estiver acontecendo uma guerra, segundo os místicos do século XX. Oremos pelo Papa Francisco, pela Igreja, pela conversão dos pecadores. Se ainda não entendemos muito do que está acontecendo, podemos crer que o triunfo do Imaculado Coração de Maria acontecerá, da maneira e no tempo que Deus estabeleceu. Confiemos! Oremos! Louvado seja o nome do Senhor Jesus!