Este texto é, originalmente, de 22 de janeiro de 2018, bem anterior à canonização do Papa Paulo VI. Texto de Wilson V. M. Junior.
Já
fazem mais de 50 anos do encerramento do maior acontecimento
religioso do século XX (talvez apenas as aparições de Nossa
Senhora em Fátima, Portugal, em 1917, tenha sido tão ou mais
importante). Desde que o Papa João XXIII (hoje canonizado) o
convocou, tendo seu início em 1962, encerramento em 1965 (já com o
Papa Paulo VI, hoje beatificado) e como consequencia direta uma
reforma litúrgica (em 1969) desastrosa, para dizer o mínimo, a
Igreja vem celebrando como um acontecimento fenomenal, um divisor de
águas, um novo tempo, uma atualização da Igreja perante as
mudanças que ocorreram no mundo.
Poucas vozes se levantaram contra
o Concílio ou contra a reforma litúrgica. Afinal de contas, sempre
há os insatisfeitos com tudo. Ao final do Concílio Vaticano I
também houve aqueles que não concordaram com as decisões
conciliares e até mesmo se afastaram. Ficaram conhecidos como os
“Velhos Católicos”. Estes protestaram principalmente contra a
decisão de proclamar como dogma a “infalibilidade papal”. As
críticas dos “Velhos Católicos” foram perdendo força com o
tempo e, hoje em dia, não há mais qualquer resquício destes, que
acabaram absorvidos pelo Protestantismo. No caso do Concílio
Vaticano II a coisa ficou um pouco mais complicada. Nas poucas vozes
que se levantaram de imediato contra o Concílio, haviam cardeais
(como o Ottaviani), o bispo francês Marcel Lefebvre e até um
brasileiro, dom Antonio de Castro Mayer, bispo de Campos-RJ.
Normalmente sempre há aqueles que não conseguem ser tão abertos a
mudanças, mas estes críticos do Concílio Vaticano II (em especial
dom Lefebvre e dom Castro Mayer), além de gritarem que o Concílio
havia tomado decisões que contrariavam os ensinamentos anteriores da
Igreja, negavam-se a celebrar a Missa no novo rito romano, oriundo da
Reforma Litúrgica, e mantinham-se celebrando a Missa no rito
tridentino, anterior à essa Reforma de 1969.
Embora o rito Tridentino (hoje o
rito extraordinário da santa Missa) nunca tenha sido proibido na
teoria, na prática o Papa Paulo VI teve inúmeros atritos com d.
Lefebvre por conta disso, sem conseguir êxito com o bispo francês.
Este manteve suas posições firmes diante de sua Fraternidade São
Pio X e com o apoio dos que ficaram conhecidos como “os padres de
Campos” (com a liderança de d. Castro Mayer), até que em 1988
foram excomungados pelo Papa João Paulo II (hoje canonizado). Bem
antes disso, o Papa Paulo VI fez um reconhecimento público de que os
“frutos” do Concílio Vaticano II não estavam sendo o que ele
esperava, a ponto de dizer que parecia que, por alguma brecha, “a
fumaça de Satanás” havia penetrado na Igreja. Paulo VI não
estava satisfeito com a “primavera” cinzenta que o Concílio fez
surgir. Esse discurso, no entanto, só foi levado em conta por
sedevacantistas (esqueci de mencionar estes) e os tradicionalistas
como d. Lefebvre e d. Castro. O Papa Paulo VI passou, veio João
Paulo I, mas este não teve tempo de fazer nada: em 33 dias estava
morto. Em 1978 assume o papado o polonês Karol Woytila, João paulo
II, que segue a linha entusiasta do Concílio Vaticano II,
principalmente no Ecumenismo. Nem o atentado à sua vida que sofre em
1981 freia seu ânimo ecumênico, que ele chega a escrever num
documento oficial (a “Ut Unum Sint”) que é um caminho
irreversível para a Igreja Católica (o Ecumenismo, entenda-se).
Este documento foi escrito em 1987 e, no ano seguinte, os atritos com
a Fraternidade Sacerdotal São Pio X de d. Marcel Lefebvre chegaram
ao seu clímax. Cansado de esperar autorização de Roma para ordenar
novos bispos para a Fraternidade, d. Lefebvre (com o apoio sempre de
d. Castro Mayer) ordena quatro novos bispos sem a autorização do
Papa, que se enfurece com isso e excomunga os dois bispos envolvidos
e os quatro novos ordenados.
Abro um parágrafo rápido para
citar os sedevacantistas. Estes, após o Concílio Vaticano II, não
só não o reconheceram como um Concílio legítimo como também
passaram a não reconhecer nenhum Papa posterior a Pio XII.
Declaravam que a Sé estava vacante, ou seja, sem Papa reinante (daí
o nome com que ficaram conhecidos). Chegaram ao absurdo de até mesmo
proclamar um novo Papa (Pio XIII) mas este mesmo não levou essa
insanidade até o fim, mudando de nome e perdendo-se completamente.
Os sedevacantistas ainda existem e não são tão poucos assim, mas
sem nenhuma força em Roma. A Fraternidade Sacerdotal São Pio X
(FSSPX) não estava em comunhão com o Papa João Paulo II (não
esteve com Bento XVI e continua não estando com o Papa Francisco),
mas têm suas influências em Roma, mesmo após a morte de d.
Lefebvre. O Superior da FSSPX agora é d. Bernard Fellay (um dos
bispos que foram ordenados em 1988 e excomungado por João Paulo II).
Alguma coisa, porém, acontece
com João Paulo II. O Papa que, em 1986, convocou o “encontro de
Assis” com a presença de vários líderes de religiões mundiais,
unidos em Assis (na Itália) para rezarem juntos pela paz, onde
aconteceram coisas absurdas como uma estátua de Buda ser colocada
sobre o sacrário para que os budistas fizessem seu ritual, como
retirarem todas as imagens de Nossa Senhora para não desagradar aos
visitantes, ou como galinhas serem sacrificadas no altar de santa
Clara por uma religião tribal africana, este mesmo Papa parece
seguir um novo rumo em seu pontificado. Em preparação ao jubileu do
ano 2000, o Papa declara que os 3 anos anteriores ao jubileu serão
oferecidos à Trindade Santa. Assim, 1997 será o ano de Jesus, 1998
o ano do Espírito Santo e 1999 o ano consagrado a Deus Pai. E, para
surpresa de todos, no ano 2000 a FSSPX faz uma peregrinação ao
Vaticano (por ocasião do jubileu) e, mesmo excomungados, reconhecem
a autoridade do Papa João Paulo II. Teria sido o jubileu do ano 2000
e essa peregrinação da FSSPX que mexeram com o Papa? Teria sido
influência da irmã Lucia de Fátima e seus apelos insistentes para
que fosse ouvida a mensagem de Fátima? Seria influência de um tal
Joseph Ratzinger, bispo que o Papa João Paulo II tornou prefeito da
Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé e que tinha fama de ser
bem ortodoxo? Teria sido seus atritos com a chamada Teologia da
Libertação, de forte teor marxista, aqui na América Latina?
O
fato é que, ainda no ano 2000, o Cardeal Joseph Ratzinger lança a
“Dominus Iesus”, com a aprovação de João Paulo II, que dá uma
freada inesperada no Ecumenismo, onde declara, entre outras coisas
polêmicas, que as comunidades que não apresentam ordenações
sacerdotais válidas e nem uma Eucaristia válida sequer podem ser
consideradas “igrejas”, pois apenas possuem elementos de igreja
(é a exclusão de todo o Protestantismo; apenas as Igrejas Ortodoxas
seriam, por essa declaração, consideradas ‘Igrejas’).
Curiosamente é o mesmo ano em que, no Brasil, a Campanha da
Fraternidade apresenta uma novidade: ela é feita em conjunto com as
“igrejas” que fazem parte do CONIC, ou seja, pela primeira vez
uma CF ecumênica. A CNBB não deu a mínima à “Dominus Iesus”,
que foi muitíssimo criticada.
Em
2003 o Papa João Paulo II surpreende novamente ao lançar a
“Ecclesia de Eucharistia”, onde declara que o Concílio (já
estamos quase entrando no tema do artigo) Vaticano II trouxe luz, mas
também apareceram sombras. E afirma a santa Missa como a renovação
do sacrifício da cruz, lembrando inclusive que a referência
dogmática da santa Missa é o Concílio de Trento, e não o Vaticano
II. Seguem-se uma série de tentativas de salvar a liturgia do caos
que se tornou após a Reforma Liturgica, com abusos inacreditáveis
ao redor do mundo (chegou-se a fazer a “Consagração” com
biscoito e coca-cola, ao invés do pão e vinho; ‘missas’ festa,
tango, gaúcha, afro, e por aí afora abundam pelo mundo).
Bento XVI continua a linha do
Papa João Paulo II em sua nova fase, e dá passos inacreditáveis em
direção aos tradicionalistas, retira as excomunhões de d.
Lefebvre, d. Castro Mayer e os 4 bispos ordenados por eles
(declarando que essas excomunhões eram nulas desde o início, por
não terem a intenção de um cisma), permite que estudiosos façam
críticas ao Concílio Vaticano II, reabilita com a “Summorum
Pontificum” a celebração da santa Missa no rito tridentino como
uma forma extraordinária do mesmo rito romano, incentivando os
sacerdotes a conhecerem mais este rito. Esta guinada tem seu trágico
final quando o Papa Bento XVI anuncia sua renúncia, surpreendendo a
todos.
É
com o Papa Francisco que chego onde estou tentando chegar desde o
início deste artigo. Um novo rumo se dá com Francisco. Na tentativa
de blindar o Concílio Vaticano II das críticas cada vez maiores
dentro da própria Igreja (e não mais apenas fora, de grupos
sedevacantistas, ou meio/fora como os tradicionalistas), o Papa
decide canonizar João XXIII (que convocou o Concílio e o iniciou) e
João Paulo II (que levou o Ecumenismo às raias do absurdo, mesmo
tendo recuado depois). É a inacreditável beatificação do Papa
Paulo VI, porém, que me leva a entender que seu objetivo parece não
ser exatamente canonizar João XXIII, João Paulo II ou Paulo VI. O
Concílio Vaticano II é cercado de circunstâncias tão estranhas
(como o acordo Roma-Moscou, a infiltração maçônica na Igreja,
entre outras coisas) que somente uma atitude extrema poderia pôr fim
às discussões sobre ele. Como criticar um Concílio convocado por
um santo (João XXIII)? Como criticar o Ecumenismo do Concílio
Vaticano II, se foi amplamente incentivado por um santo (João Paulo
II)? Como criticar a Reforma Litúrgica, se foi iniciativa de um
beato (Paulo VI)? A intenção parece clara para mim: calar os
críticos de maneira a torná-los até mesmo ridículos. Assim, João
XXIII é santo, Paulo VI é beato, João Paulo I é venerável
(também está em processo de beatificação), João Paulo II é
santo, e não tenho dúvidas que talvez Bento XVI (o Papa que teve a
coragem de renunciar) e Francisco (o Papa humilde) terão também
seus processos, após morrerem. Vivemos quase os tempos apostólicos!
Já o Papa anterior ao Concílio (Pio XII) também está em processo
de beatificação.
O
Papa não tem autoridade para canonizar quem ele quiser? Entraria no
dogma da “infalibilidade” as canonizações e beatificações?
Essas perguntas ficam difíceis na medida em que nos deparamos com a
realidade. Se, no caso de João Paulo II, há algumas críticas (em
relação ao Ecumenismo e outras coisas), e no caso de João XXIII há
em dobro críticas, em relação à sua proximidade com membros da
Maçonaria (sem contar o acordo Roma-Moscou e seu Ecumenismo também),
no caso do Papa Paulo VI é que o caldo engrossa de vez. Paulo VI,
além de muitas críticas que se poderia fazer, tem razoáveis
denúncias de ter sido homossexual, e praticante, e inclusive
enquanto Papa! Leve-se em conta a ‘coincidência’ absurda de ter
sido beatificado durante um sínodo das famílias que tratava, entre
outros assuntos, de homossexualismo. E após esse sínodo veio o
documento “Amoris Laetitiae”, que alguns interpretaram de maneira
a até mesmo criar uma nova pastoral, a da Diversidade, para acolher
os irmãos homossexuais e inserí-los nas comunidades paroquiais.
Quando for canonizado (alguém duvida?) e, se for confirmado que ele
foi mesmo homossexual (será que há uma investigação séria da
parte do Vaticano quanto a isso?), já não será mais um Papa que
caiu em tentação, mas um precursor de uma nova era na Igreja (um
homossexual santo!).
São João Paulo II mudou seu
pontificado. O Papa Francisco pode também mudar. Talvez sejam tudo
grandes coincidências. Talvez eu e muitos outros estejamos cegos,
ávidos em criticar o Papa, guiados por uma soberba tremenda,
queremos ser mais católicos que a Igreja, mais santos que os santos,
queremos saber mais que os Papas! Deus nos humilhe, para nosso
próprio bem, se assim for. Hoje parece-me, no entanto, que
algo não vai bem no Vaticano, e que somente com muita oração
conseguir-se-á reverter esse quadro. Espero, de coração, que haja
quem esteja investigando (da parte do Vaticano) essas acusações e
críticas tão sérias feitas a João XXIII e Paulo VI,
especialmente. Espero que ocorram debates com a coragem de criticar o
Concílio Vaticano II e a Reforma Litúrgica de Paulo VI, pois são
evidentes vários de seus maus frutos (sejamos justos em dizer que o
Concílio e a Reforma também tiveram seus acertos, obviamente).
Nenhum destes Papas tiveram a coragem de consagrar a Rússia ao
Imaculado Coração de Maria, como foi pedido em Fátima. Nem o mais
mariano dos Papas do século XX: João Paulo II! Segundo um
estigmatizado italiano, Antonio Rufini, ao ser perguntado se João
Paulo II seria o Papa que consagraria a Rússia, ele teria dito que
não. “Nem ele nem seu sucessor, mas o que virá após esse”, ou
seja, o Papa Francisco! Que mudança extraordinária acontecerá para
que o Papa Francisco mude totalmente sua linha de pontificado e até
mesmo reveja um assunto considerado encerrado pelo Vaticano (a
consagração da Rússia)? Não sabemos...mas o que sabemos é que
Deus está no controle de sua Igreja (nunca deixou de estar) e que
Ele põe um limite ao mal. A consagração será feita quando estiver
acontecendo uma guerra, segundo os místicos do século XX. Oremos
pelo Papa Francisco, pela Igreja, pela conversão dos pecadores. Se
ainda não entendemos muito do que está acontecendo, podemos crer
que o triunfo do Imaculado Coração de Maria acontecerá, da maneira
e no tempo que Deus estabeleceu. Confiemos! Oremos! Louvado seja o
nome do Senhor Jesus!
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