ESCOLAS
INOVADORAS: PROJETO ÂNCORA
por Wilson Junior
por Wilson Junior
O
projeto ÂNCORA iniciou-se (em 1995) como um reforço escolar numa
ONG, em Cotia-SP, mas cresceu e hoje existe como uma escola (a partir
de 2012), apresentando uma maneira diferente de educar as crianças e
levá-las ao aprendizado.
A
criança é educada num ambiente diferente, não em salas de aula com
quadros de onde precisaria copiar coisas, mas em contato com a
natureza, priorizando as suas escolhas pessoais de interesse de
aprendizado, mesclando com atividades esportivas e/ou de recreamento,
respeitando o tempo que cada uma delas leva para assimilar o
conhecimento que está sendo passado. Há, inclusive, um circo no
meio da ONG (da escola) e diversas atividades são realizadas por lá.
Os professores incentivam ao máximo a liberdade e a capacidade do
aluno, priorizando a cidadania, e não tanto o conhecimento
cognoscível.
É
como uma mescla entre as ideias de Piaget e Vygotski, com maior
ênfase no segundo, num sócio-construtivismo, interagindo o aluno
com o social e estimulando o aprendizado fora do ambiente tradicional
de sala de aula. No projeto Âncora não há séries, mas sim etapas
de aprendizado, que não necessariamente tem a ver com a idade, algo
como Vygotski idealizou, e o projeto tem crescido e despertado o
interesse Brasil afora.
Problemas?
Pesquisei na internet e não encontrei críticas ao estilo de escola
adotado, mas de imediato lembrei-me de uma frase de Olavo de
Carvalho: “Um mundo que confia seu futuro ao discernimento dos
jovens é um mundo velho e cansado, que já não tem futuro algum”
(artigo “O imbecil juvenil”, Jornal da Tarde, SP, 03/04/98).
Parece que essa é uma tendência em todos os níveis hoje em dia, a
de deixar o jovem guiar o futuro (e não orientá-lo para tal). Assim
vemos, por exemplo, músicas que dizem “Eu sou assim...quem quiser
gostar de mim, eu sou assim” (comercial da Natura) ou outdoors
apresentando um curso de inglês onde uma criança emburrada diz que
“se não for pra aprender do meu jeito, eu não quero”. O
resultado disso só pode ser adultos que serão como crianças
mimadas, incapazes de lidar com as pressões que a vida vai oferecer
sem pena. O jovem ou a criança, que nem mesmo conhecem a si mesmos,
se colocam como os protagonistas da sua própria formação,
absurdamente. Olavo de Carvalho, no mesmo artigo acima citado,
comenta: “Eis o motivo pelo qual a juventude, desde que a covardia
dos adultos lhe deu autoridade para mandar e desmandar, esteve sempre
na vanguarda de todos os erros e perversidades do século: nazismo,
fascismo, comunismo, seitas pseudo-religiosas, consumo de drogas. São
sempre os jovens que estão um passo à frente na direção do pior”.
Talvez Olavo tenha exagerado ou seja pessimista demais, mas quando
vemos as mudanças que ocorreram na educação brasileira e o lugar
em que nos encontramos, precisamos ter humildade (como nos pede
Leandro Karnal num dos vídeos propostos para estudo) de voltar o
olhar para trás, para ver onde nos desviamos, e não seguir em
frente, mesmo não vendo resultados significativos. A educação
brasileira está sempre tirando os últimos lugares nos testes
internacionais, e mesmo assim transformou-se Paulo Freire, por
exemplo, no Patrono da Educação.
No
vídeo sobre o projeto Ãncora, há uma hora em que chegam a dizer
que o conhecimento cognoscível não é o importante ali, e isso me
lembra o que outro autor escreveu em “Maquiavel Pedagogo”
(editora Ecclesiae, 2013). Neste livro, o autor (Pascal Bernardin) se
aprofunda nos textos oficiais de órgãos como a ONU, a UNESCO, entre
outros, e denuncia que “os ensinos formal e intelectual são
negligenciados em proveito de um ensino não cognitivo e
multidimensional, privilegiando o social” e que, para isso,
esses órgãos se utilizam de “técnicas de manipulação
psicológica e de lavagem cerebral”. É por isso que, para esse
autor, o nível escolar seguir decaindo (no caso ele analisa a
situação nos EUA) não é surpresa, mas consequencia das escolas
adotarem modelos não intelectuais, mas adotarem como missão a
formação social dos alunos. A acusação do autor é grave, mas se
baseia em documentos, o que nos leva a temer o futuro onde escolas
como o modelo do projeto Âncora nos levarão. Para não se estender
demais, citarei apenas um documento, o “A modificação das
atitudes” (1964, Paris, UNESCO), que diz: “os objetivos visados
só serão atingidos quando a nova série de valores aparecer ao
indivíduo como algo que ele tenha escolhido livremente”, ou seja,
a UNESCO está incentivando o uso de técnicas de manipulação das
massas para que eu e você pensemos que tomamos a decisão, mas
sequer temos conhecimento de que escolhemos aquilo que eles já
tinham escolhidos por nós. E nossa liberdade, onde fica?
O
projeto Âncora, assim, parece-me uma experiência que está sendo
realizada, seguindo as diretrizes educacionais de órgãos
internacionais do Ocidente, para criar pessoas dóceis ao seus
líderes, e de certa forma foi isso o que Dr. Povalyaev, chefe do
setor de sociologia da Bielorrússia, em 1989, na UNESCO, declarou:
“Um dos paradoxos da sociedade moderna é o de que ela não tem
necessidade de um grande número de pessoas instruídas. A
seleção se opera por meio do que se chama ‘elite social’, que
realiza o trabalho intelectual necessário. Aos demais compete ou
a execução das decisões ou o exercício de cargos subalternos”.
É para isso que estamos sendo educados, para sermos dóceis às
mudanças que já foram decididas, sem levar em conta nossa liberdade
ou capacidade, porque para a UNESCO nosso papel será o de preencher
‘cargos subalternos’, sempre governados pela ‘elite social’,
algo parecido com o que já foi denunciado também na literatura,
como em “Admirável mundo novo” (de Aldous Huxley) e “1984”
(George Orwell).
A
educação brasileira (e ocidental em geral) tem sofrida déficits há
décadas e assim continuará, enquanto estiver seguindo essa agenda
internacional da ONU, que privilegia apenas a eles mesmos, em
detrimento de nossa capacidade e liberdade. O modelo tradicional de
aprendizado tinha seus defeitos? Claro que sim, todos os modelos de
ensino terão problemas, e assim devem ser atualizados, mas nunca em
detrimento do conhecimento cognoscível. Seguir esse modelo do
projeto Âncora é aceitar sermos experiências de laboratório para
esses órgãos, que sequer respeitam nossa liberdade, que sequer nos
respeitam como sujeitos pensantes, mas que visam que nos calemos e
apenas façamos o que eles acham que é o melhor para o mundo. E
ainda nos manipulam para que tenhamos a ilusão de achar que nós é
que escolhemos isso. Conhecer suas técnicas e seus objetivos, e
denunciá-los, é necessário. Voltar ao ensinamento tradicional,
privilegiando o conhecimento, também. As questões sociais devem ser
tratadas, claro, mas no momento certo, não em detrimento do ensino,
mas em acréscimo a ele. As mudanças que aconteceram nas famílias
(como Ivan Capelatto cita em um dos vídeos, também proposto para
este estudo) têm que ser levadas em conta, deve-se sim procurar
conhecer a raiz dos problemas e das mudanças, mas deixar de
privilegiar o ensino cognoscível apenas nos fará sermos sempre
manipulados.
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