segunda-feira, 19 de novembro de 2018

CRÍTICAS AO CHAMADO "PROJETO ÂNCORA"

    Deparei-me com um trabalho da faculdade nesse período onde teria que fazer uma análise sobre o "Projeto Âncora", que conheci através do youtube: https://www.youtube.com/watch?v=kE6MlnwML8Y. Não o vi com bons olhos e fiz minha análise, já esperando aquela nota baixa, embora acredite que meu trabalho está bem argumentado e com referências. O fato de ser discordante por si já me deixou esperando receber uma nota baixa. Para minha surpresa total, minha nota foi 10, e gostaria de partilhar aqui o texto avaliado.




ESCOLAS INOVADORAS: PROJETO ÂNCORA
por Wilson Junior


          O projeto ÂNCORA iniciou-se (em 1995) como um reforço escolar numa ONG, em Cotia-SP, mas cresceu e hoje existe como uma escola (a partir de 2012), apresentando uma maneira diferente de educar as crianças e levá-las ao aprendizado.
          A criança é educada num ambiente diferente, não em salas de aula com quadros de onde precisaria copiar coisas, mas em contato com a natureza, priorizando as suas escolhas pessoais de interesse de aprendizado, mesclando com atividades esportivas e/ou de recreamento, respeitando o tempo que cada uma delas leva para assimilar o conhecimento que está sendo passado. Há, inclusive, um circo no meio da ONG (da escola) e diversas atividades são realizadas por lá. Os professores incentivam ao máximo a liberdade e a capacidade do aluno, priorizando a cidadania, e não tanto o conhecimento cognoscível.
          É como uma mescla entre as ideias de Piaget e Vygotski, com maior ênfase no segundo, num sócio-construtivismo, interagindo o aluno com o social e estimulando o aprendizado fora do ambiente tradicional de sala de aula. No projeto Âncora não há séries, mas sim etapas de aprendizado, que não necessariamente tem a ver com a idade, algo como Vygotski idealizou, e o projeto tem crescido e despertado o interesse Brasil afora.
          Problemas? Pesquisei na internet e não encontrei críticas ao estilo de escola adotado, mas de imediato lembrei-me de uma frase de Olavo de Carvalho: “Um mundo que confia seu futuro ao discernimento dos jovens é um mundo velho e cansado, que já não tem futuro algum” (artigo “O imbecil juvenil”, Jornal da Tarde, SP, 03/04/98). Parece que essa é uma tendência em todos os níveis hoje em dia, a de deixar o jovem guiar o futuro (e não orientá-lo para tal). Assim vemos, por exemplo, músicas que dizem “Eu sou assim...quem quiser gostar de mim, eu sou assim” (comercial da Natura) ou outdoors apresentando um curso de inglês onde uma criança emburrada diz que “se não for pra aprender do meu jeito, eu não quero”. O resultado disso só pode ser adultos que serão como crianças mimadas, incapazes de lidar com as pressões que a vida vai oferecer sem pena. O jovem ou a criança, que nem mesmo conhecem a si mesmos, se colocam como os protagonistas da sua própria formação, absurdamente. Olavo de Carvalho, no mesmo artigo acima citado, comenta: “Eis o motivo pelo qual a juventude, desde que a covardia dos adultos lhe deu autoridade para mandar e desmandar, esteve sempre na vanguarda de todos os erros e perversidades do século: nazismo, fascismo, comunismo, seitas pseudo-religiosas, consumo de drogas. São sempre os jovens que estão um passo à frente na direção do pior”. Talvez Olavo tenha exagerado ou seja pessimista demais, mas quando vemos as mudanças que ocorreram na educação brasileira e o lugar em que nos encontramos, precisamos ter humildade (como nos pede Leandro Karnal num dos vídeos propostos para estudo) de voltar o olhar para trás, para ver onde nos desviamos, e não seguir em frente, mesmo não vendo resultados significativos. A educação brasileira está sempre tirando os últimos lugares nos testes internacionais, e mesmo assim transformou-se Paulo Freire, por exemplo, no Patrono da Educação.
          No vídeo sobre o projeto Ãncora, há uma hora em que chegam a dizer que o conhecimento cognoscível não é o importante ali, e isso me lembra o que outro autor escreveu em “Maquiavel Pedagogo” (editora Ecclesiae, 2013). Neste livro, o autor (Pascal Bernardin) se aprofunda nos textos oficiais de órgãos como a ONU, a UNESCO, entre outros, e denuncia que “os ensinos formal e intelectual são negligenciados em proveito de um ensino não cognitivo e multidimensional, privilegiando o social” e que, para isso, esses órgãos se utilizam de “técnicas de manipulação psicológica e de lavagem cerebral”. É por isso que, para esse autor, o nível escolar seguir decaindo (no caso ele analisa a situação nos EUA) não é surpresa, mas consequencia das escolas adotarem modelos não intelectuais, mas adotarem como missão a formação social dos alunos. A acusação do autor é grave, mas se baseia em documentos, o que nos leva a temer o futuro onde escolas como o modelo do projeto Âncora nos levarão. Para não se estender demais, citarei apenas um documento, o “A modificação das atitudes” (1964, Paris, UNESCO), que diz: “os objetivos visados só serão atingidos quando a nova série de valores aparecer ao indivíduo como algo que ele tenha escolhido livremente”, ou seja, a UNESCO está incentivando o uso de técnicas de manipulação das massas para que eu e você pensemos que tomamos a decisão, mas sequer temos conhecimento de que escolhemos aquilo que eles já tinham escolhidos por nós. E nossa liberdade, onde fica?
          O projeto Âncora, assim, parece-me uma experiência que está sendo realizada, seguindo as diretrizes educacionais de órgãos internacionais do Ocidente, para criar pessoas dóceis ao seus líderes, e de certa forma foi isso o que Dr. Povalyaev, chefe do setor de sociologia da Bielorrússia, em 1989, na UNESCO, declarou: “Um dos paradoxos da sociedade moderna é o de que ela não tem necessidade de um grande número de pessoas instruídas. A seleção se opera por meio do que se chama ‘elite social’, que realiza o trabalho intelectual necessário. Aos demais compete ou a execução das decisões ou o exercício de cargos subalternos”. É para isso que estamos sendo educados, para sermos dóceis às mudanças que já foram decididas, sem levar em conta nossa liberdade ou capacidade, porque para a UNESCO nosso papel será o de preencher ‘cargos subalternos’, sempre governados pela ‘elite social’, algo parecido com o que já foi denunciado também na literatura, como em “Admirável mundo novo” (de Aldous Huxley) e “1984” (George Orwell).
          A educação brasileira (e ocidental em geral) tem sofrida déficits há décadas e assim continuará, enquanto estiver seguindo essa agenda internacional da ONU, que privilegia apenas a eles mesmos, em detrimento de nossa capacidade e liberdade. O modelo tradicional de aprendizado tinha seus defeitos? Claro que sim, todos os modelos de ensino terão problemas, e assim devem ser atualizados, mas nunca em detrimento do conhecimento cognoscível. Seguir esse modelo do projeto Âncora é aceitar sermos experiências de laboratório para esses órgãos, que sequer respeitam nossa liberdade, que sequer nos respeitam como sujeitos pensantes, mas que visam que nos calemos e apenas façamos o que eles acham que é o melhor para o mundo. E ainda nos manipulam para que tenhamos a ilusão de achar que nós é que escolhemos isso. Conhecer suas técnicas e seus objetivos, e denunciá-los, é necessário. Voltar ao ensinamento tradicional, privilegiando o conhecimento, também. As questões sociais devem ser tratadas, claro, mas no momento certo, não em detrimento do ensino, mas em acréscimo a ele. As mudanças que aconteceram nas famílias (como Ivan Capelatto cita em um dos vídeos, também proposto para este estudo) têm que ser levadas em conta, deve-se sim procurar conhecer a raiz dos problemas e das mudanças, mas deixar de privilegiar o ensino cognoscível apenas nos fará sermos sempre manipulados.

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