Blog pessoal de Wilson Vieira de Mesquita Junior. Assuntos do blog? Principalmente Catolicismo, mas pode ser abordado qualquer assunto.
domingo, 10 de fevereiro de 2019
PRA DESTRUIR A SEMANA
Um dia desses, saindo do trabalho, vi uma senhora que parecia moradora de rua escrevendo no chão. Ainda cheguei a ler a primeira frase que ela escreveu: "Se não aprender a amar a mim mesma, como poderei amar o próximo?". No dia seguinte, ao passar no mesmo local, vi o que mais ela escreveu: "As vezes fico pensando que eu serei feliz". Aquela frase arrasou minha semana.
O nosso cotidiano é tão corrido que acabamos sendo levados pela vida, esquecemos nossos sonhos, tornamo-nos pessoas frias, tristes, deixamos de lado aquilo que realmente importa. Passamos a viver para acumular coisas e não ligamos para os valores que realmente nos fazem sermos pessoas melhores. Achamos bonito atitudes como a de são Francisco de Assis, que largou sua fortuna para ter uma vida simples, mas longe de nós termos a mesma atitude. Isso é coisa para os livros. Isso é coisa para os santos.
Deus nos fala nas coisas simples e, quem poderia esperar ou imaginar?, por uma moradora de rua, soltando seu pedido de ajuda ou seu desabafo. Tenho meus sonhos, assim como cada um de nós temos, mas quem se importa com os sonhos de uma moradora de rua? Eu não mais a encontrei e, se encontrasse, não sei o que fazer, não sei como abordar a pessoa, não sei o que eu poderia fazer para ajudá-la a ser feliz, mas isso não saiu da minha cabeça. Aquela mulher escrevendo no chão destruiu minha semana e a única coisa que me vinha na cabeça era: "mas que bosta de cristão eu sou".
Aquela senhora tem seus sonhos, assim como as crianças que moram na rua (e que acabarão tendo seus sonhos pisados pela triste e dura realidade). A dureza da vida é cruel, injusta, não leva em conta nossos limites, o que passamos, nossos traumas, sofrimentos, sonhos...a vida é dura e não se importa. Lembra-me uma vez que uma turma aqui onde moro foram juntos à praia (eu fui também) e lá havia uma criança que havia levado um caixote e ficou sentado na areia. E falávamos para ela se levantar e vir pra fora da água, mas ela respondia (parada) que tinha entrado areia nos olhos. Ficando parada, vinha outra onda e quebrava em cima da criança, piorando a situação. A dureza da vida exige que sejamos fortes. Parar enquanto outra onda vem vindo, como se ela tivesse a obrigação de entender que precisamos de um tempo, é loucura ou ingenuidade, e nos trará ainda mais dificuldade. É preciso seguir...e é preciso justamente porque outros precisarão ser ajudados nos infortúnios da vida.
É necessário que eu pregue na Igreja, é fundamental que eu vá à santa Missa, que eu receba o Corpo de Cristo em mim. É preciso ser dizimista para ajudar nas contas da Paróquia, é preciso oração, pessoal e comunitária. Servir numa pastoral é preciso, interceder pelos outros, seja na oração do terço ou outras formas. Mas o Evangelho precisa nos mover em direção aos mais pequeninos, nem que seja no nosso íntimo, nem que seja para que possamos nos enxergar como somos: dependentes da graça de Deus e incapazes sequer de boas obras, se não for pela ação do Espírito Santo.
Os sonhos daquela mulher talvez não sejam jamais realizados. Seu desabafo, porém, me arrasou por dentro. Fez-me reconhecer como meu ministério na Igreja é estéril, é básico. Eu não sei que rumo seguirei nesse momento, mas tenho certeza de que Deus me deixará inquieto em relação a essa realidade por muito tempo.
Não que minha vida na Igreja seja falsa e nem é alívios de consciência que busco (cada um avalie a si mesmo). A minha impotência diante de ajudar alguém a vencer seus limites e realizar um sonho talvez seja uma cruz a carregar por toda a vida. Talvez seja necessário outro nível de conversão que ainda não pude dar ou será preciso outra pessoa me ajudar a isso (ou nos organizarmos em comunidade para isso). A esperança daquela mulher de rua de que ainda será feliz foi um tremendo tapa na cara. Deus me ajude a acordar com esse tapa.
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