"A Igreja vive da Eucaristia!"
Assim começa a carta encíclica de (são) João Paulo II "Ecclesia de Eucharistia", de 2003. Uma encíclica surpreendente pelo teor doutrinário sobre a santa Missa, e de maneira bem tradicional. Em tempos ainda de super euforia com o Concílio Vaticano II, com ecumenismo exagerado, anarquias litúrgicas, excessos e tudo mais, vem o Papa João Paulo II e traz verdades dolorosas a quem tinha esperanças de que a Igreja mudasse seu ensinamento sobre a santa Missa.
"A Igreja vive de Jesus eucarístico, por ele é nutrida, por ele é iluminada" (EE 6).
O surpreendente na encíclica é o Papa valorizar algo que estava, pelos progressistas, ultrapassado e esquecido: o Concílio de Trento. "Como não admirar as exposições doutrinais dos decretos sobre a Santíssima Eucaristia e sobre o Santo Sacrifício da Missa promulgados pelo Concílio de Trento? Aquelas páginas guiaram a teologia e a catequese nos séculos sucessivos, PERMANECENDO AINDA como ponto de referência dogmático para a incessante renovação e crescimento do povo de Deus na sua fé e amor à Eucaristia" (EE 9).
João Paulo II elogia a reforma litúrgica e diz que trouxe grandes vantagens, mas..."a par destas luzes, não faltam sombras, infelizmente". Então fala de alguns abusos litúrgicos, principalmente o desprovir a Santa Missa de seu valor sacrificial: "despojado do seu valor sacrificial, é vivido como se em nada ultrapassasse o sentido e o valor de um encontro fraterno ao redor da mesa" (EE 10). Obviamente a Santa Missa é muito mais que isso. Obviamente nessa época já haviam muitos e muitos mais abusos litúrgicos pelo mundo.
Colocando o Concílio de Trento como referência dogmática, o Capítulo primeiro da encíclica já afirma que a Santa Missa "é o sacrifício da cruz que se perpetua através dos séculos" (EE 11). Em tempos de ouvir que a Missa era uma "festa", um "banquete", uma "refeição", etc, reafirmar o Concílio de Trento e o valor da Missa como sacrifício já foi pisar no freio progressista e dar uma meia-volta surpreendente. "A Missa é, ao mesmo tempo e inseparavelmente, o memorial sacrificial em que se perpetua o sacrifício da cruz e o banquete sagrado da comunhão do corpo e sangue do Senhor" (EE 12). Como isso estava começando a ser esquecido nas paróquias!
Não uma lembrança do sacrifício da cruz ou uma referência indireta a esse sacrifício. "A Eucaristia é sacrifício em sentido próprio, e não apenas em sentido genérico como se se tratasse da oferta de Cristo aos fiéis para seu alimento espiritual" (EE 13), ou seja, Jesus nos deixou a si mesmo nesse admirável sacramento não apenas para ser nosso alimento espiritual, mas para que pudéssemos participar de seu sacrifício. Ao afirmar a presença REAL do Senhor na Eucaristia, diz que "reafirma-se assim a DOUTRINA SEMPRE VÁLIDA do Concílio de Trento" (EE 15), outra citação de um Concílio considerado "ultrapassado".
"O culto prestado à Eucaristia fora da Missa é de uma valor inestimável na vida da Igreja, e está ligado intimamente com a celebração do sacrifício eucarístico." (EE 25) João Paulo II é genial ao comparar a adoração eucarística com o inclinar do apóstolo predileto sobre o peito de Jesus (cf. João 13,25).
Há riquezas incríveis nessa encíclica, onde o Papa reafirma o valor da Missa celebrada mesmo que não tenha povo, o valor do sacramento da Ordem para que possa ser celebrada a Missa, que deve haver Confissão dos pecados para poder receber Jesus eucarístico, que a Eucaristia deve gerar em nós uma contínua exigência de conversão. Desfaz as confusões ecumênicas sobre o assunto, pois "o caminho para a plena união só pode ser construído na verdade" (EE 44). Novamente vai lamentar os abusos litúrgicos, especialmente em relação à música, e termina oferecendo-nos Maria, mulher eucarística, "o primeiro sacrário da história" (EE 55).
Minha admiração por esse documento e o que escrevi aqui não revelam 1% do que ele é. Todo católico deveria ler, meditar e ter esse documento como livro de cabeceira. Ele é curto, mas um tesouro! Quer conhecer a santa Missa a fundo mesmo e abraçar a fé dos santos? Comece por aqui e vá para os ensinamentos doutrinários sobre a Missa que estão no Concílio de Trento. A santa Missa é o tesouro escondido que poucos católicos encontraram.
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